terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Adeus Arábia!

Hoje no meu último dia na Arábia Saudita aproveitei pra ir a Jeddah de novo, passei no Al-Ballad, o comércio popular com os mexicanos que queriam comprar uns narguilés. O lugar é definitivamente o local que eu me mais sinto confortável na cidade toda. Ninguém te pergunta aonde você está indo, não tem os aborrencentes 'paquerando', e justamente por não ter nenhuma dessas frescuradas dos shopping centers, não se vê ninguém ostentando ou querendo aparecer.

Depois pegamos um táxi de volta para o Seirifi Mall, de onde o ônibus parte, e encontrei com 2 amigas do Egito também esperando pelo ônibus, decentemente vestidas, com a abaya e o hejab só não tapando o rosto. Menos de 5 minutos e passa um carro na nossa frente, o garoto praticamente se joga pela janela mostrando um cartaz com o número de telefone dele, pedindo pra elas anotarem. Elas levaram na boa, mas às vezes pode ser meio constrangedor, outra vez um garoto não parava de tentar passar o telefone dele mesmo ela estando acompanhada da mãe. Acredito que eles só fazem isso pra aparecer, e devem achar que ganharam o dia se conseguem ver uma mexinha do cabelo ou algo assim... A foto ao lado - acreditem! - é uma loja de roupas femininas aqui na Arábia.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Khalas - se acabó!

Ontem passamos o dia inteiro na casa do Luis estudando Biostat (eu, Pepe, Erika, Armando e Luis). Apesar de não termos tirado tantas sonecas, foi até bastante descontraído em se tratando da matéria mais cabeluda da KAUST... A prova a princípio seria com consulta, e na semana passada o professor havia avisado que pra quem não tinha o livro (como eu), poderia usar a versão .pdf no computador. 20 minutos antes do exame, recebemos uma mensagem do monitor avisando que não seria permitido o uso de laptops. Todo mundo se desespera, imprime todas as notas possíveis, mas no final das contas o professor acabou deixando. Apesar do tempo curto, com certeza fui muito melhor que a prova anterior, e estou super aliviado que acabou!

Madruguei hoje para ir a Jeddah, já que a noite teremos o jantar de gala dos alunos. O monitor de circuitos (de Bangladesh) estava reclamando dessa política de salários diferenciados por nacionalidade, que vários alunos da Ínia, China, Paquistão, etc., tinham notas muito maiores e eram muito mais empenhados, mas receberiam menos da metade que um americano, só por causa da nacionalidade. Sei que é revoltante, mas isso são as políticas das empresas sauditas, não é culpa da KAUST. A família dele mora em Jeddah, e tava me contando que em geral os shopping centers são vistos como locais bastante abertos no país, já que homens e mulheres fazem compras juntos, então muita gente vai pra esses lugares mesmo é pra paquerar, daí a questão dos seguranças te importunarem. Apesar de não entender nada, fiquei abismado com um grupo de pré-adolescentes que enchiam todas as garotas que passavam. O cara aí da foto tinha uma bengala e ficava vigiando qualquer ato imoral. Apesar das abayas e dos hejabs, bem acredito que várias meninas também aproveitam é pra provocar os meninos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

E não é que chove?

Quinta-feira tivemos o último churrasco brasileiro do ano, meio que uma despedida já que vários estão acabando o mestrado agora. Foi bom fazer uma pausa nos estudos e dar uma descontraída. Dormi que nem uma pedra até que de madrugada cedinho eu começo a ouvir uns barulhos de trovões, achei que era parte do sonho, mas o barulho não ia embora. Quando eu ouço um barulho de água caindo, decido ir até a janela, e realmente, estava chovendo! Como o relógio apontava que sequer eram 8h, decido que isso não é horário de gente e volto a dormir. Quem sabe se daqui a 10 mil anos chover num horário mais decente talvez eu possa apreciá-la.


Dá pra ver que nem todas as ruas foram planejadas pra receberem chuva, já que em muitos lugares a água simplesmente não tem por onde escorrer. Ontem eu e o Damian fomos estudar Estatística na casa do Pepe, que tem técnicas no mínimo peculiares. Ao fim de cada capítulo tirávamos uma soneca de 5 a 10 minutos, segundo ele isso ajuda a fixar o material. Aparentemente não pode durar mais tempo porque se você começa a sonhar, o método falha. Não sei se é verdade ou não, mas ninguém apontou nada contra. Pedimos umas pizzas pra economizar tempo. O resto da tardinha/noite passei na biblioteca acabando o trabalho de optoeletrônica, que era pra entregar até a meia-noite.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um dia a casa cai (literalmente!)

O título do post de hoje é em homenagem ao teto da minha casa, que devido a um vazamento no ar condicionado, ameaçava desabar no quarto do meu roommate, mas já vieram uns filipinos dar um 'jeitinho'. Fiquei imaginando se só a água do ar-condicionado consegue fazer esse estrago, imagina se um dia chovesse... Aliás, hoje o dia foi muito estranho, óbvio que fez sol e calor como sempre, sei que estamos no inverno, mas ainda achei muito suspeita a quantidade de nuvens no céu, às vezes parecia que o tempo estava quase nublado. Talvez seja tudo delírio da minha mente, até porque a maior parte do dia passei foi dentro da biblioteca tentando resolver as questões de optoeletrônica e concluindo o projeto de circuitos.

Quase todos os alunos da faculdade agora estão super ocupados com trabalhos, projetos e exames finais. Digo quase porque alguns sortudos já acabaram todas as provas. Já comentei antes aqui que vários chineses fazem das salinhas de estudo da biblioteca a extensão do próprio lar, mas hoje encontramos um bilhete numa delas falando que haviam guardado no armário todo o material deixado ali, e reiterando que não se deve deixar objetos pessoais para 'segurá-la'. Xeretamos o que havia dentro do armário, além de coisas normais que se esperaria numa sala de estudos como livros, cadernos e canetas, também haviam objetos muito menos óbvios, como travesseiros, cobertores, entre outros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bom dia

Desde que eu parei de escutar o chamado para reza do meu roommate - que sempre toca às 4h da manhã - estava certo que mais nada poderia me acordar. Mas como já é de costume, a KAUST não se cansa nos surpreender, e eis que hoje - umas 9h da madrugada -, descubro que existe um heliponto bem em frente a minha casa. Cheguei a perder a conta de quantos helicopteros pousaram, parece que estamos recebendo uns convidados VIPs, provavelmente pra abertura de algum centro novo. Como moramos num ovo, não demora muito e tudo cai na boca do povo, vou procurar descobrir o que os rumores estão falando.

No início do ano que vem tem o chamado programa de aperfeiçoamento durante as nossas férias de 'inverno', com presença obrigatória. Genialmente, marcaram uma apresentação na pior época possível do semestre (no meio das provas) pra apresentar o cronograma, também com presença obrigatória. Na hora do almoço, pois assim ninguém podia dizer que tinha aula, dizia no e-mail que serviriam um lanchinho, que se resumiu a biscoitos e água. Além de atrasarem mais de 15 minutos, o alarme de incêndio ainda tocou no meio de uma das apresentações, mas os funcionários daqui levam tão a sério esse negócio que ninguém sequer saiu do auditório. Às 14h em ponto houve uma debandada em massa dos alunos, achei até um pouco desrespeitoso, mas acho que foi um modo de marcar posição de como todo mundo estava lá era obrigado e cheio de compromissos acadêmicos.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Thuwal

Ontem o pai de um aluno faleceu aqui na universidade. Ele veio dos Estados Unidos para fazer o Hajj com o filho, a peregrinação entre Mecca e Medina que todos muçulmanos deveriam fazer antes de morrer. Acredito que deva ser uma péssima sensação perder o pai te visitando na sua universidade, mas ao menos ele conseguiu realizar o desejo de fazer o Hajj em vida. Aparentemente ele já vinha lutando contra o câncer há algum tempo, e essa parece ter sido a causa da morte. Ultimamente todo mundo tem estado gripado (inclusive eu), já que doenças do mundo todo se encontram num só lugar durante o Hajj.

Fora isso a vida continua normal na universidade. Como vários alunos vão embora no final desse ano, tivemos um bazar de coisas usadas, tudo evaporou num instante. Agora sobraram só o que ninguém quer: tipo uma espada saudita por 5 mil reais. Hoje vários dos meus amigos se apresentaram numa peça teatral, super bacana por sinal. Descobri que um dos indianos é relativamente famoso numa parte da Índia por fazer pontas na TV. Por motivos óbvios era proibido tirar fotos, filmes, gravações, etc. Essa semana também teremos a votação para os representantes dos alunos, o bacana é que a campanha dos candidatos é obrigatoriamente discreta, nada de e-mails ou folhetos não-solicitados.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Qual é a cor do seu passaporte?

Temos um dos super-computadores mais rápidos do mundo, o Shaheen, que foi construído em parceria com a IBM. Os alunos de Engenharia de Computação usam ele freqüentemente pra rodar programas. Mas só recentemente descobri que pelo acordo assinado, determinadas nacionalidades não tem o direito de usar o Shaheen. Assim, mesmo que os alunos sírios e palestinos sejam os mais brilhantes da turma, vão ficar sempre em desvantagem comparado aos outros. É algo que me deixa profundamente transtornado, ver toda essa diferença de tratamentos por motivos tão torpes quanto a cor do seu passaporte...

Os alunos que foram entrevistados na feira de empregos receberam as propostas de trabalho apenas essa semana. Para exatamente o mesmo posto com o mesmo nível de formação, um aluno da Índia, Bangladesh ou China receberia exatamente metade do que um aluno americano, enquanto que os árabes e mexicanos ficam mais ou menos no meio termo. Infelizmente é algo bastante comum nas empresas sauditas: salários diferenciados de acordo com o seu país de origem. Não vou entrar no mérito da questão, mas acho isso tudo muito doentio e desnecessariamente racista.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Prêmio Nobel

Apesar de todas as críticas ao cara da WikiLeaks que vazou todos esses documentos sigilosos, acho que o cara merecia um prêmio nobel só pela coragem de ter mostrado ao mundo toda a podridão e essas maracutais que rolam por de baixo dos panos. Faço um paralelo com o chinês dissidente que recebeu recentemente o prêmio Nobel da Paz, a grande diferença é que agora também foram reveladas as malandragens cometidas indiscretamente pelo primeiro mundo. Se ninguém tivesse o rabo preso, não teria o que temer, a questão é que sempre foi muito mais fácil apontar o dedo pra alguém do que admitir seus próprios equívocos. Essas revelações sobre vários países do mundo árabe apoiando uma ação contra o Irã também não são surpresa alguma, os iranianos são persas e xiitas, motivos aparentemente mais do que suficientes pra todo mundo daqui detestá-los.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Previsão do tempo

Hoje pela primeira vez vi na TV a previsão do tempo no país. Além do óbvio (calor e sol forte pelos próximos 200 anos =), achei interessante como eles mostram as tempestades de areia se movendo pelo mapa. Aparentemente agora em novembro e início de dezembro é a época de maior ocorrência. Recebemos um e-mail da KAUST um tempo atrás recomendando não sair de casa quando elas ocorrem, mas a verdade é que ninguém deixa de trabalhar ou ter aula por causa disso, os funcionários que trabalham ao tempo recebem máscaras, e só. Essa semana foram pelo menos umas 3, é uma sensação desagradável o gosto de areia que fica na garganta. Hoje tive sorte que quando estava saindo pra aula, o Hani acabava de chegar e me deu uma carona até a faculdade. Depois do almoço pra voltar já estava trânqüilo.

Ontem a noite tivemos a apresentação do Iemen, foi bacana aprender um pouco da história do país, ver as roupas típicas e provar a comida local. O chá deles também leva leite, acho que deve ter sido uma das influências britânicas no país. Falaram bastante da Ilha de Socotra, que é considerado um patrimônio natural pela UNESCO, mas pra falar a verdade, não achei nada demais, o Brasil ou o México tem uma tonelada de ilhas que dão de 10. Estamos agora é tentando convencer o Beshir a fazer uma apresentação sobre a Eritréia, o país que consta no passaporte/cidadania dele, apesar dele jamais ter ido lá.

domingo, 28 de novembro de 2010

Final de semestre!

Ao invés de viajar ou fazer o Hajj em Mecca/Medina, vários alunos resolveram ficar na faculdade pra adiantar os projetos e homeworks de final de ano. Nada contra, o problema é que como boa parte da classe já se adiantou, os professores se acham no direito de inventar e cobrar além. Semana passada foi bastante apertada, trabalhando muito contra os prazos, e indo dormir tarde quase todos os dias. Só consegui sobreviver porque tenho amigos e dividimos/copiamos irmamente as tarefas para casa. Ainda tenho que fazer um projeto que nem comecei para essa semana, mas está muito mais trânqüilo agora.

Pelo que vejo dos meus roommates e dos outros alunos, parece ser uma (outra) época de exames. Praticamente todas as salas de vidro da biblioteca estão ocupadas por chineses, que as consideram uma extensão da própria casa. Era por volta de meio-dia quando contei pelo menos 5 cochilando na biblioteca. Amanhã teremos um evento sobre o Iemen, e o Saeed é um dos organizadores, aparentemente além da história, fotos, etcs, também teremos dança típica, roupas, e claro, muita comida! =)

sábado, 27 de novembro de 2010

Saúde ao rei da Arábia Saudita!

A versão oficial é que o rei foi a Nova Iorque se tratar de um probleminha de saúde. Agora, se realmente não fosse nada grave, não faz sentido ele atravessar meio mundo pra ir ao hospital, enquanto há varios tops de linha aqui no Oriente Médio. Dizem que tudo está muito bem, mas a verdade é que o rei já tem 80 e tantos anos e o país já começa a pensar como seria uma possível sucessão. O seguinte da fila também tá pra mais pra lá do que pra cá nos seus 85 anos, o outro próximo sucessor é mais novinho, 75 anos, porém super conservador, o que causa um tanto de apreensão. Durante a nossa visita a Ta'if, sempre que nos despedíamos de um local, todos desejavam saúde e vida longa ao rei. Acredito que nos jornais e revistas devam estar cheios de notinhas de empresas/pessoas desejando melhoras.

Descobri que não fui o único aluno a ser interrogado ao tentar entrar no Red Sea Mall. Como eu tinha escrito ontem, aqui eles levam muito em consideração as aparências, se você parece ter muito dinheiro, dificilmente vão te criar problemas. O Saad tava falando que em geral na Síria eles não vão muito com a cara dos sauditas porque eles vão pra lá fazer tudo que eles não podem fazer na Arábia, o que não se restringe em ir ao cinema ou ao teatro. Acredito que muitas garotas do Líbano e da Síria devem se deslumbrar com toda a grana dos sauditas, o que faz os locais morrerem de inveja. Lembro que na volta de Beirute um saudita estava casado/acompanhado de uma ucraniana deslumbrante, que tampouco falava árabe. Acho que só mesmo com o tempo as pessoas descobrem que o dinheiro compra muito menos do que a gente pensava, e que não deveríamos dar tanta importância a ele.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Volta a Arábia Saudita

Quando cheguei de Beirute, não encontrei ninguém da KAUST no aeroporto e tive que pegar um táxi sozinho pra universidade. Uma das primeiras coisas que o motorista me perguntou foi qual era a minha religião, apesar de em geral os sauditas nos tratarem bem, acho que no fundo eles nunca se sentem confortáveis de verdade com infiéis no país deles. O meu professor de Optoeletrônica é super gente fina, mas na última aula ele estava comentando como o pessoal aqui trata as pessoas pela aparência. Quando ele chegou de viagem e pegou um táxi pra universidade, talvez pelo fato de ele ser asiático ou pelo sotaque, o trataram friamente até chegarem na casona dele, quando finalmente o motorista se surpreendeu, e ofereceu ajuda até pra legar a bagagem pra dentro da casa. É muito triste ver as pessoas serem julgadas e tratadas de forma diferente apenas pela aparência, cor da pele, religião ou qualquer outra bobagem.

Pra compensar a viagem ontem a Ta'if foi super divertida. A cidade fica nas montanhas, acho que a mais de 2000 metros de altura, e como durante o verão, Riad fica um verdadeiro inferno, a família real migra em peso pra lá. Nossa primeira parada foi um hotel 5 estrelas para cavalos, que recebem hóspedes/animais do mundo todo: Bahrein, Egito, Paquistão... Ainda passeamos de camelo, encontramos com babuínos e descemos num teleférico incrível: conecta um hotel estrelado no topo das montanhas a um parque aquático sensacional na parte baixa. O trajeto passa por cima das autoestradas e apesar de ir bem rápido, leva uns 20 minutos pra fazer o trajeto todo porque o percurso é muito grande. As piscinas da mulherada ficavam cobertas por muros de mais de uns 20 metros de altura e não dava pra ver nada, nem do telefórico. Chamou a atenção foi como a cidade é bem mais conservadora que Jeddah, todas as mulheres usavam aqueles panos que só deixa aparecer os olhos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Volta a vida de universitário...

Na capital, Beirute, passei mesmo menos de um dia, mas valeu a pena pra conhecer. Além do Raouche (essas pedrinhas ao lado), foi bacana ver uma parte da cidade que ficou por muito tempo inabitada, pois era bem na divisa entre os bairros muçulmanos e cristãos (o Green Line), e apesar de novos arranha-céus estarem tomando o terreno, ainda se vê vários prédios detonados pela guerra, entre hotéis, residências, etc. O centro antigo da cidade foi totalmente destruído, e atualmente foi todo refeito, ou seja, dá uma sensação de algo bastante artificial, meio que sem sal. O Museu Nacional abriga obras incríveis da Idade do Bronze, do Imério Romano, e apesar dos muçulmanos reinarem por mais de mil anos, eles tem apenas uma prateleira com peças de arte relativamente simples, tipo potes e pratos.

Comparando as pessoas dos diferentes países, os sírios são sem dúvida os mais amigáveis. As libanesas só de olhar pra elas, já fecham a cara direto. Mas a grande surpresa mesmo foi no vôo de volta: uma saudita que estava embarcando um pouco antes de mim foi sem dúvida a mulher mais bonita que eu vi na viagem toda! No Líbano ela não usava nem hejab nem abaya, mas foi só pisar na Arábia que ela se enrolou toda nos panos, e halas. De volta a KAUST, descobri que vários alunos passaram essa semana toda adiantando os projetos, e sobrou pra quem viajou, virar noites e noites tentando recuperar o tempo perdido. Com certeza que valeu muito a pena esse tempinho, e amanhã já vou viajar de novo para Taif, nas montanhas ao sul de Jeddah.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Líbano

Achei que o mais bacana do Líbano sem dúvida foram as ruínas de Baalbeck, devido ao clima seco e poucas chuvas, a cidade se orgulha de ter os templos romanos mais bem preservados do mundo. A única coisa que faltava mesmo era o telhado, que era feito de folhas de cedro, e por motivos óbvios, não resiste tão bem assim ao tempo. O nosso guia também conseguia falar um bom português, o irmão dele mora no Paraná, o que é relativamente comum, ter familiares no Brasil. Parece que o Brasil é o país com mais libaneses no mundo, eles dizem ser entre 6 e 8 milhões, mas eu tenho cá minhas dúvidas se também estão contando as Shakiras e os Carlos Slims da vida...

O Líbano sem dúvida é muito mais liberal que a Síria, a internet não tem bloqueio nenhum, há eleições, e tudo mais. Mas a impressão que eu tive é que em geral a população vive muito mais pobre. Em Tripoli a diversão da meninada era andar com essas armas de brinquedo por aí. Quando o pessoal nos notava, pediam pra gente tirar foto, só por curiosidade mesmo, e depois vê-los no visor. O engraçado é que eles vinham provavelmente me perguntar pra traduzir alguma coisa, e eu só tentava explicar que apesar de não parecer, eu era um falso árabe e só falava inglês. Falei com uma senhora em árabe que eu era do Brasil, e ela começou a berrar pra vizinhança toda, e me mostrava de onde tirar fotos legais do morro.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Síria e Líbano

Tanto na Síria quanto no Líbano todo mundo achava que eu era do local, e sempre falavam em árabe comigo. Na primeira noite em Damascus, fui com o pessoal do albergue a grande mesquita da cidade (que já foi templo romano, cristão, entre outros), de lá nos mandaram para a bilheteria, mas acabou que deixamos pra lá. No dia seguinte voltei a mesma mesquita sozinho, dessa vez ninguém me pediu ingresso, e entrei até na sala de orações sem problema nenhum. Enquanto voltava pelas escadas para o albergue, um grupo de turistas europeus que passavam pela rua me tiraram uma centena de fotos do suposto árabe voltando para casa.

No albergue também funcionava um curso de árabe para estrangeiros. Foi bacana sair com o pessoal que morava no local, o que eles achavam do país e também com os sírios. A primeira coisa que os sírios me disseram é que o eles fazem na Arábia Saudita não é Islã, que na época do profeta também viviam em Meca e Medina cristãos, judeus e muçulmanos sem problema nenhum, e nada comparado com essa segregação de hoje de homens e mulheres. Me surpreendi que nem todos os muçulmanos tem vontade de fazer o Haj (a peregrinação a Mecca/Medina que todos com condições deveriam fazer). Um dos passos é atirar pedras no capeta quando ele tentou Abrãao a não matar o seu filho, segundo um palestino que estava com a gente, por que fazer isso na única vez que o coisa-ruim falou algo que presta?

Como um pessoal do albergue também ia pro Líbano, resolvemos fazer um grupo e viajar junto. Me impressionou a quantidade de carros alemães no Líbano, diria que mais da metade dos carros do país são Mercedes ou BMWs, entre novos, velhos e usados. Segundo o Ahmed, do Bahrein, que estava viajando com a gente, os libaneses são piores do que judeus, vão pra locais do mundo em que ninguém faz dinheiro, tipo países da África, e monopolizam a venda de água e comida. O esteriótipo deles no Oriente Médio são de pessoas super orgulhosas do seu país, e um tanto quanto arrogantes, praticamente uns argentinos. Eles chamam Sidney de segunda Beirute, devido a quantidade de libaneses por lá. John, da Nova Zelândia, garantiu que os australianos são o pior povo do mundo, uma mistura de italianos, gregos e libaneses.

A entrada para as ruínas ou a maioria dos locais turísticos tinha preços distintos para libaneses e estrangeiros, volta e meia eu também pagava metade, só não abrir a boca. No caminho para Sidon e Tyre (perto da fronteira com Israel), vê-se vários cartazes com fotos dos mártires e órfãos de guerra, além de várias bandeiras do Hezbollah. Me pareceu que esses grupos extremistas crescem com muito mais facilidade nos locais mais pobres, esquecidos pelo poder público. Felizmente o líder atual do Hezbollah é mais relax. Uma parte considerável da população do Líbano é cristã, mas não me pareceu que se misturam tão bem quanto na Síria. Nos locais onde há cristãos, se encontra em várias ruas, praças e locais públicos diversas cruzes e imagens de santos, o que eu acredito que deva gerar uma certa tensão com os muçulmanos, que não espalham nenhum símbolo religioso pela cidade.

domingo, 21 de novembro de 2010

Damascus

Tive sorte que o meu vôo com conexão em Medina não era para peregrinos, mesmo assim eu era o único não-árabe no avião. Ao chegar na Síria, passei muito rápido na imigração, e logo encontrei com o motorista que ia me levar para o albergue. Ele também estava dando carona para um saudita, que a primeira coisa foi me perguntar se eu era muçulmano e o que estava fazendo em Medina. Nenhum dos dois falava nada de inglês, e como eu também não falo quase nada de árabe, nossa conversa foi bem restrita a coisas básicas.

O hostel ficava literalmente nas muralhas da cidade, e uma das saídas era essa escadinha vagabunda que dava pra rua. Ao contrário da Arábia Saudita, as mulheres não precisam usar abayas ou hejabs, só usa quem quiser, pelo menos na cidade, uma minoria. Mulheres usando luvas e cobrindo o corpo todo, quase não se vê. Fiquei impressionado mesmo foi com a quantidade de estrangeiros na cidade. Parece que todo europeu que estuda árabe precisa passar um semestre em algum país do oriente médio pra se formar, e como Damasco é barato e vende-se álcool, tornou-se um destino bastante popular entre estudantes. A cidade velha é dividido em 3 áreas principais: o bairro judeu, o bairro muçulmano e o bairro cristão. Antigamente cada parte tinha o seu dia de folga diferente: sexta para os muçulmanos, sábado para os judeus, e domingo para os cristãos. Parece que os sírios em si não tem nada contra judeus em si, mas sim contra Israel. De qualquer forma, praticamente não há mais judeus na cidade.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Em algum lugar entre a Siria e o Libano

Soh pra avisar que nao tive problemas em Meddina, cheguei bem na Siria, e agora estou viajando pelo Libano. Volto pra Arabia sabado de noite, entao nao esperem por posts antes de domingo... O que mais me chamou a atencao foram todos os esteriotipos e o que os arabes acham uns dos outros

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Hajj

Hajj é uma das datas mais sagradas do mundo islâmico, pelo menos uma vez na vida os muçulmanos que tem condições, devem visitar Mecca e Medina durante essa época. Basicamente, a quase totalidade dos alunos aproveita esse período de recesso para viajar, e comigo não vai ser diferente. Há quase um mês dei entrada no processo de visto para a Síria, mas toda semana o consulado achava um erro, e hoje, último dia antes de viajar, consegui o bendito visto! Outro problema é que eu tenho uma conexão em Medina justamente nessa época de peregrinação, óbvio que vou tentar ser o mais discreto possível, perguntar pouco, e torcer para que não seja um vôo de peregrinos, se não também não me deixarão embarcar...

Mas só o fato de ter conseguido o visto para a Síria já me fez ganhar o dia! Essa foi uma semana cansativa, ontem tive 2 exames, além de um homework longo de estatística. Hoje de manhã trabalhei com o meu grupo no projeto, e de tarde, no paper de optoeletrônica, tentando adiantar tanto quanto possível antes da viagem. Nem comecei a arrumar as malas, mas ainda tenho o churrasco da Débora de despedida. Ela e o Conrad vão para a Hungria nesse Eid. Aliás, como sempre, todo mundo vai para o mundo todo: uns amigos foram para o Rio de Janeiro, outros estão em Tokyo, Taiwan, Indonésia, Vietnam, Itália, Camboja...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Bike

O Cecil estava irritadíssimo que construíram um píer enorme só para a casa do presidente, e que com 10% da grana gasta lá dava pra fazer o circuito de mountain bike que ele tanto reclama com a KAUST, enfim, prioridades que não dá pra entender direito na universidade... Daqui a alguns dias ele vai pra África do Sul participar de uma competição em grupo, segundo ele deve ser transmitido pela TV. A irmã dele, além de pedalar, também organiza alguns eventos, ela desceu de bike desde Cairo até a Cidade do Cabo. Parece que volta e meia apareciam no caminho uns animais selvagens, em Botsuana ela estava pedalando sozinha porque uma parte do grupo estava a frente e outra atrás, mas surgiram o que eles chamam de cachorros selvagens, por sorte um carro estava passando perto e serviu como 'escudo' para protegê-la.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Churrasco da Débora

Agora virou oficial: toda quarta-feira haverá churrasco na casa da Débora e do Conrad! A idéia é bacana: cada um leva uma carne e uma bebida ou algum prato qualquer. Como uma das casas vizinhas era inabitada, pegáva-se cadeiras emprestadas, mas recentemente o André descobriu que há gente morando no local. Agora surgiu a preocupação de se fazer uma política de boa-vizinhança, e nessa quarta-feira, além do Angel e da Juliete também apareceram 2 sauditas que trabalham no Inovation Center e levaram uma 'feijoada' picante! Achei curioso que uma delas não usava nem abaya nem véu cobrindo o cabelo, ambas eram gente finíssima.

Parece que essa quarta-feira foi 'o dia' pra festejar, na casa do Sérgio ainda estava rolando uma, e segundo os meus roommates, nosso outro vizinho reuniu mais de 30 pessoas! Quando cheguei em casa encontrei uma galera saindo de bicicleta da casa do Ouf/Iran. Pra compensar o final de semana foi bastante sossegado, muita gente foi pra viagem de jatinho particular a Sheyba, e os outros (como eu) ficaram em casa estudando pros exames. Ontem a noite ainda assisti um filme no cinema da KAUST: 'Devil', sobre um grupo de pessoas presas num elevador. Curiosamente a sala estava bem cheia, acredito que a maioria dos árabes aproveita o fato de ser um dos únicos cinemas dentro do Reino e não deixam passar nada.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quem quer emprego?

Me voluntariei a ajudar na feira de empregos da KAUST, voltada principalmente para os alunos que estão se formando no final desse ano. Como voluntários recebemos várias regalias além do crachá, como almoço e janta VIP. A comida estava uma delícia, serviram o que eles chamam de champagne saudita, que é relativamente caro no supermercado. Achei que mais parece um refrigerante com pouco gás, mas gosto é algo que não se discute... Mas foi uma chinesa quem robou a cena ontem a noite: apareceu no jantar com uma micro-saia que dava pra ver praticamente o joelho todo! Alôu, non-sense mandou lembranças: estamos na Arábia Saudita, e com convidados não acostumados a mulheres sem abayas!!

Hoje cerca de 20 empresas apareceram e várias delas já estavam fazendo entrevistas para contratação no final do ano. Todos garantiram que essa feira foi muito melhor que a do ano passado. Dizem as más línguas que antes nem pediam seu currículo se você não fosse saudita. Agora tinham oportunidades até mesmo para mulheres trabalharem dentro do reino. O que me chamou bastante a atenção foram os presentes dados pelas empresas sauditas para quem visitava os stands, tipo relógios, mouse-pads, pen-drives, rádio-relógios, além de sanduíches, chocolates, sucos, refrigerantes...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Um rato!

Dava pra ver que o Hani estava bastante incomodado com o fato que tinha acabado de ver um rato passeando dentro do quarto dele e me pediu ajuda. Peguei uma vassoura e comecei a caça por todos os cantos, enquanto ele me apontava de cima da cama para onde o roedor tentava se esconder. Acabei destruindo a vassoura, mas por fim consegui aniquilar a besta. Como já era tarde e a lavanderia estava fechada, ensinei o Hani como usar a máquina de lavar e emprestei um pouco de sabão em pó.

Hoje contratamos o serviço de limpeza: 3 filipinos só para a nossa casa, achei um tanto quanto exagero, mas tudo bem. Segundo o Hani na Arábia é normal ter um filipino trabalhando em casa porque a mão-de-obra é bem barata. Segundo ele um grande problema é que muitas famílias sauditas pagam a passagem pra eles virem para o país, mas depois de um ou dois meses de trabalho vários deles fogem. Parece que o tio dele teve um problema sério quando foi para os Estados Unidos com 2 filipinos que fugiram lá, e o governo americano se recusou a ajudar a capturá-los.

domingo, 31 de outubro de 2010

Haram

Haram significa qualquer coisa que seja contra o Islã, várias delas aprendi graças ao meu novo livrinho tipo: fazer qualquer tipo de aposta, usar substâncias tóxicas, mulheres usarem vestimentas da 'época da ignorância', e mais uma infinidade de outras coisas. Não vou entrar em detalhes de como a sociedade aqui é contraditória, pois isso também acontece em todas as religiões. No dia seguinte ao atolamento, visitamos a cidade histórica de Mada'in Salah, a maior cidade dos nabateos depois da capital, Petra.

Nosso guia também não sabia direito a história, mas ouvi dizer que os muçulmanos da região tentaram convertê-los enviando um cordeiro, mas como os nabateos tinham toda uma cultura e deuses próprios, não tavam nem aí, fizeram um grande churrasco e os muçulmanos não ficaram pouco fulos da vida. Acho que está escrito em algum livro que Allah os almadiçou ou algo assim, e desde então uma galera daqui queria destruir as construções deles. Por sorte virou patrimônio da UNESCO, cercaram o terreno todo e agora exigem uma permissão especial para entrar.

Não havia quase ninguém no parque, e a mulherada foi logo perguntar pro nosso guia se podiam tirar a abaya, já que estava quente pra caramba. Todas esses portais desenhados nas pedras são na verdade entradas de túmulos, parece que as famílias mais ricas faziam numa pedra única, sem vizinhos, os não tão abastados assim tinham outros túmulos na proximidade. Numa cadeia de montanhas funcionava meio que o centrão, tinha um local para sacrifício de animais, locais públicos e uma grande reserva d'água. Um dos poços era usado para agricultura até poucos anos atrás, quando visitamos todos estavam secos.

No meio do caminho encontrados uns árabes que nunca devem ter visto tanta mulher junta, ainda mais sem abaya! Não paravam de nos filmar/tirar fotos, espero que não resulte em maiores problemas.Visitamos ainda uma estação de trem desativada, que ligava Istambul até a cidade sagrada de Medina. A viagem de camelo durava 2 meses, com o trem passou a levar apenas 2 dias. Com o apoio dos britânicos e franceses, os árabes saquearam vários carros e destruíram a malha ferroviária, o que ajudou a derrotar o Império Otomano na primeira guerra mundial e desde 1916 está desativada.

Devido ao atolamento do dia anterior, a polícia descobriu que éramos um grupo de ocidentais viajando sozinhos de ônibus na Arábia Saudita, assim ganhamos uma escolta não-solicitada de volta a KAUST. Um carro ia na frente e outro atrás, até o posto policial seguinte, quando trocavam a escolta. Também podiam parar quando bem entedessem para rezar, e definiram que passaríamos por Medina porque era o caminho mais curto. Todo mundo apostou 1 rial a que horas chegaríamos de volta a KAUST, somando um prêmio total de quase 40 rials!

Quando chegamos a Medina, era mais ou menos um bom horário para jantar, mas não deixaram ninguém descer do ônibus até uma distância considerada 'razoável' da cidade. Uma galera tirou fotos da plaquinha 'entrada proibida para infiéis' no portão da cidade. Paramos num posto de gasolina sujinho, e a mulherada toda saiu com as abayas, mas os policiais pareciam ainda irritados e falaram algumas palavras não muito agradáveis em árabe com o motorista, não sei se porque não estavam cobertas o suficiente ou porque nem todas eram casadas, enfim tivemos uma parada muito mais curta do que a programada.

sábado, 30 de outubro de 2010

Mada'in Salah!

A primeira impressão é como o local é verde, um vale entre as montanhas repleto de palmeiras. Devido a abundância de água, há registros de civilizações no local há mais de 6000 anos! Segundo o nosso guia antigamente com um buraco de 5 ou 6 metros já se encontrava água. Claro que às não há chuva todo ano, mas às vezes chega a chover de 3 a 4 vezes num mesmo ano! Nossa primeira parada foram as ruínas da antiga cidade muçulmanas. Do alto do morro tínhamos uma visão bem bacana da cidade, aparentemente éramos os únicos visitando o local. Algo que me chamou a atenção é que na excursão éramos todos ocidentais: finlandeses, brasileiros, portugueses, sul-africanos, americanos, italianos, mexicanos... Parece que o pessoal local mesmo não liga muito para a história da região, uma pena.

Das ruínas fomos para a Pedra do Elefante, que fica bem no meio do deserto. Dessa vez não estávamos sozinhos, perto da pedra também tinha um 'casal' (um homem + suas quatro mulheres =) fazendo um pic-nic, mas acho que devem ter se sentido um tanto quanto deslocados com a nossa presença e partiram logo. Ainda íamos passar no mercado de frutas, mas o motorista do ônibus foi desviar de um carro parado no caminho, e acabamos por encalhar na areia fofa. Tentamos empurrar o ônibus várias vezes, mas de nada adiantou. Em questão de minutos vários jipes da polícia nos cercaram e ficaram só observando. Depois de quase 3 horas parados no deserto, conseguimos finalmente contratar um serviço de táxi/resgate pelo hotel.

Tentamos resgatar o ônibus com um caminhão, mas esse também acabou encalhando na areia. Finalmente mandamos para o local uma dessas máquinas usadas na construção civil para levantar objetos, e conseguimos tirar os dois da areia. Algo que me chamou a atenção é que no hotel não haviam folheto nenhum sobre o que fazer na região, atrações turísticas, restaurantes ou qualquer coisa similar. Apenas diversos folhetos/livrinhos visando a conversão de cristãos em várias línguas (árabe, francês, inglês...), peguei alguns só por curiosidade pra descobrir o que o Corão realmente diz a respeito de determinados assuntos.