terça-feira, 31 de agosto de 2010

Itfar Internacional

Itfar é como é chamada a quebra do jejum durante o Ramadan, basicamente a primeira refeição que se faz após o sol se pôr. Ontem à noite a galera que estudou comigo nos Estados Unidos me chamou pra participar do Itfar na casa do Ayman. Cada árabe levou algo, mas eu levei a minha boca e ainda sobrou comida pra caramba. O pessoal caprichou mesmo nos pratos, o que eles chamam de esfihas é bem parecido com o que vende no Habib's. Tentamos levar a mesa do jardim pra dentro da sala, porém não notamos que a tampa de vidro estava solta e o resultado foi esse daí da foto ao lado.

A galera tava comentando como é ser 'estrangeiro' na Arábia Saudita. A maioria deles nasceu e viveu a vida toda no país, mas ninguém possui a cidadania. Parece que é algo super difícil pra quem não é podre de rico, e aqui eles gostam mesmo de marcar as diferenças.

O Saeed resolveu que também quer se mudar para uma das casonas dos Gardens e que como a esposa dele está grávida (desde alguns dias ou horas! o.O), ele precisa de uma casa maior e contactou o serviço de housing. Aqui no Oriente Médio o comum é que os casamentos sejam arranjados pelos pais. Segundo o Saad a família dele jamais aceitaria que ele ficasse com uma garota que não fosse da mesma região da Síria que eles, com o que ele não parece concordar. Tem tanta coisa que antes eu assumia como óbvio, mas agora eu vejo que definitivamente não se aplica a todo lugar do mundo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Jantar de gala

Depois de uma das apresentações da semana passada, nos distribuíram uma prova surpresa de matemática a fim de testar os conhecimentos básicos de todo mundo. O negócio estava impossível, mas estávamos todos sentados numa mesa circular. Os veteranos que estavam 'vigiando' filmaram uns chineses colando (muito sem graça por sinal), expulsaram teatralmente um aluno aos berros, e finalmente fizeram um vídeo com o desespero de todo mundo e algumas das respostas mais criativas. Na verdade tudo não passava de um trote.

Ontem a noite contávamos com visitantes estrelados para a janta (leia-se ministros e pessoas próximas do presidente). Apesar de ser grátis pra todo mundo, haviam algumas mesas VIP e eu consegui um convite com os veteranos. Como é de graça até injeção na testa, o refeitório estava vomitando gente pra todos os lados. Uns chineses que não conseguiram mesa simplesmente sentaram na nossa mesa no local de outros convidados, e de nada adiantou o Miguel explicar que eles precisavam de convites...

Depois ficamos sabendo que alguém muito próximo ao presidente da KAUST (que também é chinês) deveria sentar com a gente, mas provavelmente ao notar que estava lotado deve ter é comido em pé, ou não sei o que. Outra teoria nossa é que os chineses eram na verdade parentes distantes...

Apesar da universidade ter apenas um ano, há várias passagens secretas e locais escondidos. Depois da janta uns alunos do ano passado me ensinaram um caminho subterrâneo (só para pessoas autorizadas, provavelmente alunos!) que liga o refeitório, a biblioteca e o student center. Não sei se eu consigo refazer o caminho sozinho, que mais parecia um labirinto com tantas portas e corredores brancos.

domingo, 29 de agosto de 2010

Apresentações

A Arábia Saudita é um dos países mais conservadores da mundo islâmico. Aqui apenas homens podem dirigir, o véu e a abaya das mulheres são obrigatoriamente pretos, vários meios de comunicação são censurados/controlados, entre outros. E óbvio, é quente! No início caminhar mesmo que à noite beirava o insuportável devido a humidade, mas até que já estou me acostumando.

Dizem as más-línguas que nesse verão fez 56ºC por cerca de 2h, em Julho. Devido a acordos internacionais, sempre que a temperatura ultrapassa os 50ºC, todos que trabalham ao tempo deveriam ser dispensados. Assim, a temeperatura oficial registrada sempre beira os 48/49ºC no máximo... As diferenças entre classes sociais e status são muito marcantes nesse país.

Semana passada tivemos diversas palestras e atividades envolvendo os alunos. Uma delas era relativo a construir uma cidade sustentável, o meu grupo desenvolveu várias ilhas artificais que poderiam crescer ao redor. Como a galera começou a achar que era tudo encheção de lingüiça, basicamente ninguém apareceu no dia seguinte, e mais inusitado aconteceu: ganhamos o primeiro lugar! Eu e a Amber tivemos que receber o prêmio por tudo mundo no palco (memory-sticks e 30 rials em refeições).

sábado, 28 de agosto de 2010

É fogo!

A viagem pra Arábia Saudita não começou muito bem: assim que cheguei em São Paulo o cara da Lufthansa encrencou com o meu visto e bateu o pé que sem a passagem de volta ele não ia me deixar embarcar. De nada adiantou eu explicar que eu ia estudar, o que é significaria uma longa estadia... Finalmente concordaram em me deixar viajar para Frankfurt só porque eu também tenho um passaporte europeu.

Crente que meus problemas tinham acabado por aí, descobri que ele telefonou para a imigração na Alemanha e avisou para não me deixarem embarcar. Como quem fiscalizava os documentos eram árabes, eles logo viram que estava tudo certo e pensaram que se tratava de algo mais grave, e me arguiram na frente do vôo todo se eu estive na prisão no Brasil. Foi um constragimento totalmente descenessário graças à Lufthansa, o engraçado é que o Sérgio embarcou no mesmo avião que eu, só foi atendido por outro funcionário e passou tudo normal.

Os árabes por aqui falam que a universidade é a 'Las Vegas' da Arábia Saudita, onde 'tudo' é permitido. No país só existem 2 salas de cinema, sendo uma delas na minha universidade, a KAUST. Tudo aqui é muito novo e internacional, mas também se espera respeitar os costumes locais. Por exemplo, estamos no Ramadan, época em que todos os muçulmanos jejuam durante o dia, então não se deve comer ou beber líquidos em locais públicos. A vantagem é que durante essa época sempre abastecem uma salinha com lanchinhos e sucos para os não-muçulmanos.

Logo nos primeiros dias esquecemos dessa regrinha de bom comportamento e compramos uns picolés no supermercado e fomos comer numa pracinha. Assim que lembramos escondemos tudo e fomos para dentro de uma sala onde só estavam estrangeiros, e desembrulhamos de novo. Logo mais tivemos de esconder tudo de novo porque chegaram uns muçulmanos, e logo migramos de vez pra salinha do café.

O mais bacana aqui foi encontrar com toda a galera que eu estive nos Estados Unidos, na Holanda, no México e em Londres. Outro dia mesmo estava lembrando do treinamento de incêndio da Rose-Hulman: estava tomando banho de água quente e acabei esquecendo a porta aberta, o vapor chegou no sensor e disparou o alarme. Peguei algumas roupas e saí para frente da casa, depois de um tempo o Hani também saiu, e nada do nosso outro colega de casa. Batemos na quarto dele, ele disse que pra ele não estava tanto barulho assim e que voltaria a dormir (!). Basicamente eu fui o único que levei o negócio mais ou menos a sério e fiquei do lado de fora o tempo todo esperando os bombeiros chegarem e desligar o alarme...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fim do estágio e volta ao Rio

Na última semana na Holanda conseguimos apressar muita coisa e eu e a Jessica conseguimos o que parecia impossível: tiramos o visto antes de viajar de volta para casa! Tivemos sorte que encontramos uma médica um tanto quanto 'flexível': como não estávamos com diarréia, ela marcou um OK no nosso formulário em todos os exames de cocô, disse que não tínhamos nem malária nem febre amarela sem precisar fazer os exames de sangue, entre outros.

De volta ao Rio o tempo passou voando: primeiro dia foi dia dos pais, já na manhã seguinte estava defendendo meu projeto final, no outro dei uma volta com a Rebbeca e o Muhammed (amigos da KAUST que estavam visitando a cidade), ainda adiantei o que podia para a declaração/diploma da universidade, vi algumas coisas no apartamento que a gente vai se mudar, festa de aniversário, festa de despedida... Tudo isso em 1 semana e meia!

Finalmente ainda chegou a Elena, uma amiga da Lituânia que estudou na mesma universidade que eu em Portugal. Ela estuda urbanismo na Noruega e veio fazer um projeto no Santa Marta, onde vai morar por um mês. A foto é do terraço da casa dela, lembro que já nos primeiros dias, o pessoal da rádio comunitária apresentou ela pra favela inteira, e pelo que me consta ela continua com suas apresentações diárias, não sei se dando dicas urbanísticas para os moradores ou o quê...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Médico

A boa noticia é que ontem quando fui ao médico fazer os outros exames para o visto, tive a sorte de ser atendido por uma medica muito flexível (algo um tanto incomum por aqui!), e ela me dispensou dos exames de fezes já que não tenho diarréia e colocou um grande 'OK' nos resultados. Hoje fui fazer uma dúzia de exames de sangue no hospital, e não pude ir com o pessoal para Utrecht. O laboratório estava às moscas, e inicialmente tinha planejado sair logo depois do almoço, mas a minha chefe apareceu e marcou uma reunião comigo logo mais.

O que com certeza eu vou sentir bastante falta da Holanda é que todo mundo faz tudo de bicicleta. Estávamos também cogitando comprar um desses botes infláveis de 15 euros e ir remando pelos canais até Haia ou Rotterdam, mas como agora já não nos restam dias livres e pouco tempo até a nossa partida, deixamos essa idéia de lado, mas quem sabe para uma próxima vez?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Barcos e apresentação

Tínhamos ouvido falar da parada de barcos, mas acho que ninguém esperava que seria um evento tão grande: os moradores levaram cadeiras pra assistir horas antes do início. Os barcos mais pareciam alegorias carnavalescas, muitos com partes móveis, fantasias, músicas, e outros contavam até com bateria. O canal perto de Mina, que não deve ser tão disputado, estava lotado, imagino como deve ter sido no centro de Delft ou mesmo em Haia.

O resto do domingo passei trancafiado dentro do meu quarto preparando a apresentação, como imagino todos os outros alunos também fizeram. Usei a mesma camisa de botões que eu passei os 3 dias em Londres (sim, a última lavagem dela foi no Brasil!), mas nada comparável ao cheiro do enxofre que eu sofro todo dia. Os outros alunos de Utrecht também vieram assistir, e comemoramos o sucesso num restaurante flutuante num dos canais do centro.