segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Adeus Holanda!

Na minha última semana na Holanda levei um baita tombo de bicicleta indo pro trabalho; o chão estava escorregadio e como sou um devoto fevoroso da Virgem del Punho, não troquei os freios dianteiros durante esses 6 meses e como a descida estava molhada, acabei não conseguindo freiar. Além de ter me ralado todo, o selim quebrou e a bike ficou toda arranhada. Já tinha comprado dois tubos e um pneu novo pra bicicleta, agora (finalmente!) troquei os freios e um selim novo. O dínamo não funcionava havia muito tempo, comprei uma lâmpada nova, mas mesmo assim não adiantou. Estava um tanto quanto nervoso já que a bike não era minha. Na última sexta-feira o Thijs e a Debbie passaram lá em casa pra tomar chá com a Dona Pieterese e pegar a bicicleta de volta.

Os dois foram super trânqüilos e falaram que eu não precisa ter gasto tanto dinheiro consertando a bicicleta! Ficaram com as peças antigas e falaram que já tiveram um problema parecido no dínamo e sabiam como consertar. A Dona Pieterese nos mostrou um vegetal que apesar do gosto não ser lá essas coisas, tem uma forma bem diferente e só por isso volta e meia ela compra na feira. Entreguei pra ela tudo o que eu não ia levar comigo: abóbora, sal, açúcar, mantega e uma caixinha de molho de tomate, este último ela não entendeu direito pra que serve ou o que era (!), mas ficou de experimentar um dia na sopa. Sem grandes problemas na passagem de volta ao Brasil, tirando o fato que meu passaporte tinha expirado e entrei no país como turista (salve dupla cidadania!) pra não pagar multa.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Última semana em Arnhem

Como precisava imprimir e escanear uns documentos pra faculdade, dei as caras na KEMA na própria terça-feira só para usar os equipamentos. A surpresa foi geral, perguntaram se estava tudo bem, e blablabla. Despedi como se fosse a última vez pela segunda vez (a primeira foi na semana passada, antes da desastrosa viagem à Arábia Saudita). No dia seguinte tive uma entrevista no departamento que a Jihane me indicou, e dei outro pulo no escritório, tentei me despedir mais uma vez, mas dessa vez ninguém levou muito a sério. E hoje, do nada o meu supervisor me liga me 'lembrando' da entrevista no nosso departamento, e ficaram de repassar o meu currículo para a KEMA Brasil.

Agora estou fazendo hora no escritório pra almoçar no refeitório com o pessoal, depois vou checar a feira na cidade, e de tardinha a Debbie e o namorado dela vão passar lá em casa pra tomar chá e devolver a bicicleta. No meio tempo vou arrumar as malas e me preparar para a apresentação da tese de mestrado nessa madrugada. O tempo passou voando essa semana, mas também não vejo a hora de voltar pro Brasil. Amanhã de tardinha já começa a viagem de volta pra casa!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Então é natal...

Óbvio que a minha orientadora não ficou nem um pouco feliz com o fato de eu ter sido deportado no dia da minha defesa, ainda mais já que foi ela quem pagou pela minha passagem e do meu supervisor da KEMA, e me mandou um e-mail lembrando que era minha responsabilidade checar o visto. Aparentemente um dos membros da banca ficou um tanto quanto aborrecido com o caso, e ainda mais a minha orientadora que gosta de fazer tudo certinho... Inicialmente me disseram que eu não defenderia mais nada, agora acabei de receber um e-mail marcando uma conferência via internet pras 6h da manhã do sábado, dia que eu viajo de volta pro Brasil, mas claro que a minha única opção era aceitar.

Dia 5 de dezembro é quando há a troca de presentes na Holanda. Vi um papai Noel chegando de bicicleta numa escola, e na KEMA recebemos um chocolatezinho acompanhado de um poema em holandês, aparentemente uma tradição daqui. Hoje ainda tive uma entrevista no departamento de testes e certificações de protocolos, e preciso enviar um follow-up. Estou novamente sem internet em casa, desconfio que o meu colega de quarto anda exagerando nos downloads ou algo assim. Sábado tive com religar o modem, só queria que ele admitisse o abuso, porque como sou sempre eu que conserto, a Dona Pieterese acha que eu sou o único responsável/culpado.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sem visto e sem celular

Como os árabes arrancaram o visto do meu passaporte, acredito que não vou poder voltar pra Arábia tão cedo. Gastei todo o crédito do meu celular ligando pro universidade, acreditando que eles poderiam me ajudar com a imigração, agora já estava num ônibus atravessando metade do continente, sequer tendo avisado meus pais que eu tinha sido deportado. Do nada eu recebo uma mensagem da Vodafone dizendo que poderia fazer um empréstimo de 3€, a ser pago com juros no futuro. Acho que a melhor coisa mesmo foi só ter conseguido falar com os meus pais quando as coisas já estavam encaminhadas, eles iriam ficar super nervosos no outro lado do planeta com as mãos atadas, sem poder fazer nada. A viagem foi longa, perto de Bruxelas pegamos um trânsito digno de São Paulo em dia de chuva por mais de 2h. Fizemos uma parada na capital da União Européia por quase 1h, mas eu estava pensando em tantas coisas que nem me liguei de comer, tampouco sentia fome.

Ao cruzar a fronteira com a Holanda, uma ótima notícia: internet no celular!! Postei no facebook, mandei emails avisando que estava tudo bem, liguei do skype pros meus pais de novo, mas como alegria de pobre dura pouco, em menos de 15 min estorei o meu limite de dados. De Utrecht apanhei o trem de volta pra Arnhem, e cheguei em casa tarde da noite bem abatido. Dei os bonbons belgas da minha professora pra Dona Pieterese e falei que não pude fazer a apresentação do estágio. Surpreendemente ela foi a primeira pessoa que não me perguntou o que eu iria fazer dali pra frente, mas me deu os parabéns, disse que eu iria virar engenheiro de qualquer forma mesmo sem a apresentação, e era isso o que importava! Aproveitei pra consertar a internet, me atualizar dos emails e preparei arroz com feijão pra janta, descobri que mesmo sem perceber estava morto de fome.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Paris em 2h

Apesar de estar a 2 noites sem dormir (a primeira passei no aeroporto de Amsterdam e a segunda na imigração em Jeddah), cheguei em Paris com a corda toda e fui direto no balcão da Air France brigar pelo meu ticket de volta pra Holanda. Fazendo juz à fama dos parisienses, o atendente foi super simpático ao me informar que eu não tinha provas suficientes que tinha sido deportado da Arábia, e sendo assim, eles não eram obrigados a me mandar de volta a Amsterdam. Atravessei o aeroporto todo e fui até o balcão da companhia saudita, ver se eles tinham o tal comprovante. As garotas me atenderam super bem, perguntaram o que eu ia fazer na Arábia, se os meus amigos tavam me esperando na universidade, o que ia fazer com os presentes que levava, e ainda com a apresentação da tese que não fiz??

Aí sim caiu a ficha do que estava acontecendo e o que eu perdi. Ofereceram o telefone, fiz algumas ligações pra universidade na Arábia Saudita, e o lance da passagem pra Amsterdam ia ser mesmo muito complicado. Elas falaram que eu podia apanhar o trem de volta pra casa, mas aquela porcaria do trem-expresso Thalys me pareceu ser mais caro do que passagem aérea. Descobri onde ficava o terminal de ônibus baixo-custo na cidade (um desses locais que ninguém gostaria de conhecer), e cheguei na estação 30 minutos antes da partida para Holanda. Nunca fui muito chegado a cidade da luz, acredito que uns 150-200 anos atrás devia ser mesmo 'o local', onde tudo acontecia, mas eu acho Paris uma cidade super suja, cheia de mendigos e gente sem educação ou arrogante. Depois de tudo o que passou, também não estava de bom-humor e só queria mesmo era voltar pra casa.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Barrado na Arábia

Fiz uma viagem trânquila, sem atrasos, checaram os nossos passaportes antes de embarcarmos e aparentemente estava tudo em ordem. A grande surpresa foi quando cheguei no aeroporto de Jeddah, e o fiscal da imigração ao invés de simplesmente carimbar o meu passaporte, resmungou algo em árabe, me deu um papelzinho em árabe e me apontou pro superior, que falava alguma coisa de inglês. Logo juntou um monte de militares que não falavam uma palavra em inglês mas tentavam se comunicar, dizendo que conheciam, Ronaldo, Kaká, futebol, etc. Na salinha do lado ele disse que o meu visto não era mais válido, expliquei que estava estudando no país e ia defender a minha tese de mestrado, tinha mantido o meu status de residente no país e liguei para a universidade pedindo ajuda.

Logo mandaram um cara da KAUST que falava árabe, pegou os meus documentos, falou com o chefe e os dois sumiram por um instante. Me mandaram sentar num banco do lado de fora com as outras pessoas que também estavam com problema com visto. Não tínhamos mais nome, éramos "os etiópes" (que também não falavam árabe), "o brasileiro", "o turco" (que só falava turco) e "os marroquinos" (que falavam entre si). "Os etiópes" eram cristãos, uma mulher lá com os 50-60 anos e o filho, de 30 e poucos anos, que vinham de uma viagem a negócios em Ghanzou, na China, e planejaram fazer contatos na Arábia antes de retornar a casa. Falavam inglês muito bem e eram super educados. Disseram que os chineses trabalham muito durante o dia, mas a noite parecia que todos saiam pros cafés e restaurantes.

O problema deles é que o fiscal da imigração disse que o visto deles tinha expirado. A mãe era diretora da 'Ethiopian airlines' e bateu de frente com todo mundo pra provar que tinha razão e estava tudo Ok com os documentos deles, e apontava pacientemente as datas para os funcionários. De tempos em tempos passava algum fiscal aparentemente para implicar com eles e dizia que o visto deles tinha acabado. Comigo ninguém falava nada. Não tinha lugar nenhum pra comprar comida nem usar a internet. Dividi com os etiópios os strop-waffles que tinha levado de souveniers para os meus amigos na Arábia. A 'mãe' conseguiu falar com todo mundo no aeroporto, eu estava seguro que a minha universidade estava cuidando de tudo. Uma cena que me chamou a atenção foi quando depois de quase 1h ela saiu de uma sala aos prantos e o filho deu um forte abraço para consolá-la, acredito que seriam extraditados pra Etiópia no dia seguinte simplesmente porque alguém 'resolveu' que o visto não era válido e ponto final.

Nem tive tempo de me despedir, logo (digo, depois de 7h de espera), apareceu um militar com um fuzil e apontou para eu apanhar as minhas malas. Pensei que tinham resolvido o meu problema, mas ele disse algo como eu estava voltando para casa e mostrou um bilhete como o meu nome para Paris (onde fiz uma conexão). Tentei explicar que eu estudava na Arábia Saudita e sequer morava na França, mas ele não falava uma palavra em inglês e não adiantou de nada. Atravessamos todas as filas no aeroporto, e fui escoltado pelo militar até dentro do avião. Como foi tudo muito de repente, a ficha não tinha caído do que estava acontecendo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Despedida

A maior parte dessa semana trabalhei apenas na parte da manhã, reservei o resto do dia para acertar tudo que preciso antes da viagem. Comprei um selim e freios novos pra bicicleta que vou devolver agora, me descredenciei na prefeitura e finalmente fechei a conta no banco. Terça-feira fui chamado para uma janta do grupo jovem KEMA, na verdade era uma confraternização com todos os novos funcionários da empresa que vieram do mundo todo conhecer a sede, várias pessoas da China, Estados Unidos, Alemanha, etc. Sentei do lado de uma garota que já trabalha na KEMA há uns 2-3 anos que diz adorar o Brasil/Rio, e me passou 2 contatos no RH para tentar arranjar uma entrevista já na próxima semana (!).

Essa semana vendi o meu micro-ondas para os estagiários, mas precisei carregá-lo desde lá de casa até a empresa, o que levaria normalmente 20 min, se tornaram 1h, já que a cada 30 segundos precisava apoiá-lo em algum lugar, e mesmo assim ainda estou com os braços doloridos... Hoje é o meu último dia de estágio, comprei um bolo com um desenho do ajudante negro do papai-noel, mas além dele, a Sandra (a outra estagiária) preparou um bolo escrito 'BYE' (Tchau) para a minha despedida. Apesar de estar viajando hoje a noite, sequer comecei a arrumar as malas, e até agora só tenho uma passagem de ida pra Arábia Saudita (!). Tá sendo tudo muita correria (acredito que na Arábia não será muito diferente), mas faço o possível pra que dê tudo certo.