terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Adeus Arábia!

Hoje no meu último dia na Arábia Saudita aproveitei pra ir a Jeddah de novo, passei no Al-Ballad, o comércio popular com os mexicanos que queriam comprar uns narguilés. O lugar é definitivamente o local que eu me mais sinto confortável na cidade toda. Ninguém te pergunta aonde você está indo, não tem os aborrencentes 'paquerando', e justamente por não ter nenhuma dessas frescuradas dos shopping centers, não se vê ninguém ostentando ou querendo aparecer.

Depois pegamos um táxi de volta para o Seirifi Mall, de onde o ônibus parte, e encontrei com 2 amigas do Egito também esperando pelo ônibus, decentemente vestidas, com a abaya e o hejab só não tapando o rosto. Menos de 5 minutos e passa um carro na nossa frente, o garoto praticamente se joga pela janela mostrando um cartaz com o número de telefone dele, pedindo pra elas anotarem. Elas levaram na boa, mas às vezes pode ser meio constrangedor, outra vez um garoto não parava de tentar passar o telefone dele mesmo ela estando acompanhada da mãe. Acredito que eles só fazem isso pra aparecer, e devem achar que ganharam o dia se conseguem ver uma mexinha do cabelo ou algo assim... A foto ao lado - acreditem! - é uma loja de roupas femininas aqui na Arábia.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Khalas - se acabó!

Ontem passamos o dia inteiro na casa do Luis estudando Biostat (eu, Pepe, Erika, Armando e Luis). Apesar de não termos tirado tantas sonecas, foi até bastante descontraído em se tratando da matéria mais cabeluda da KAUST... A prova a princípio seria com consulta, e na semana passada o professor havia avisado que pra quem não tinha o livro (como eu), poderia usar a versão .pdf no computador. 20 minutos antes do exame, recebemos uma mensagem do monitor avisando que não seria permitido o uso de laptops. Todo mundo se desespera, imprime todas as notas possíveis, mas no final das contas o professor acabou deixando. Apesar do tempo curto, com certeza fui muito melhor que a prova anterior, e estou super aliviado que acabou!

Madruguei hoje para ir a Jeddah, já que a noite teremos o jantar de gala dos alunos. O monitor de circuitos (de Bangladesh) estava reclamando dessa política de salários diferenciados por nacionalidade, que vários alunos da Ínia, China, Paquistão, etc., tinham notas muito maiores e eram muito mais empenhados, mas receberiam menos da metade que um americano, só por causa da nacionalidade. Sei que é revoltante, mas isso são as políticas das empresas sauditas, não é culpa da KAUST. A família dele mora em Jeddah, e tava me contando que em geral os shopping centers são vistos como locais bastante abertos no país, já que homens e mulheres fazem compras juntos, então muita gente vai pra esses lugares mesmo é pra paquerar, daí a questão dos seguranças te importunarem. Apesar de não entender nada, fiquei abismado com um grupo de pré-adolescentes que enchiam todas as garotas que passavam. O cara aí da foto tinha uma bengala e ficava vigiando qualquer ato imoral. Apesar das abayas e dos hejabs, bem acredito que várias meninas também aproveitam é pra provocar os meninos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

E não é que chove?

Quinta-feira tivemos o último churrasco brasileiro do ano, meio que uma despedida já que vários estão acabando o mestrado agora. Foi bom fazer uma pausa nos estudos e dar uma descontraída. Dormi que nem uma pedra até que de madrugada cedinho eu começo a ouvir uns barulhos de trovões, achei que era parte do sonho, mas o barulho não ia embora. Quando eu ouço um barulho de água caindo, decido ir até a janela, e realmente, estava chovendo! Como o relógio apontava que sequer eram 8h, decido que isso não é horário de gente e volto a dormir. Quem sabe se daqui a 10 mil anos chover num horário mais decente talvez eu possa apreciá-la.


Dá pra ver que nem todas as ruas foram planejadas pra receberem chuva, já que em muitos lugares a água simplesmente não tem por onde escorrer. Ontem eu e o Damian fomos estudar Estatística na casa do Pepe, que tem técnicas no mínimo peculiares. Ao fim de cada capítulo tirávamos uma soneca de 5 a 10 minutos, segundo ele isso ajuda a fixar o material. Aparentemente não pode durar mais tempo porque se você começa a sonhar, o método falha. Não sei se é verdade ou não, mas ninguém apontou nada contra. Pedimos umas pizzas pra economizar tempo. O resto da tardinha/noite passei na biblioteca acabando o trabalho de optoeletrônica, que era pra entregar até a meia-noite.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um dia a casa cai (literalmente!)

O título do post de hoje é em homenagem ao teto da minha casa, que devido a um vazamento no ar condicionado, ameaçava desabar no quarto do meu roommate, mas já vieram uns filipinos dar um 'jeitinho'. Fiquei imaginando se só a água do ar-condicionado consegue fazer esse estrago, imagina se um dia chovesse... Aliás, hoje o dia foi muito estranho, óbvio que fez sol e calor como sempre, sei que estamos no inverno, mas ainda achei muito suspeita a quantidade de nuvens no céu, às vezes parecia que o tempo estava quase nublado. Talvez seja tudo delírio da minha mente, até porque a maior parte do dia passei foi dentro da biblioteca tentando resolver as questões de optoeletrônica e concluindo o projeto de circuitos.

Quase todos os alunos da faculdade agora estão super ocupados com trabalhos, projetos e exames finais. Digo quase porque alguns sortudos já acabaram todas as provas. Já comentei antes aqui que vários chineses fazem das salinhas de estudo da biblioteca a extensão do próprio lar, mas hoje encontramos um bilhete numa delas falando que haviam guardado no armário todo o material deixado ali, e reiterando que não se deve deixar objetos pessoais para 'segurá-la'. Xeretamos o que havia dentro do armário, além de coisas normais que se esperaria numa sala de estudos como livros, cadernos e canetas, também haviam objetos muito menos óbvios, como travesseiros, cobertores, entre outros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bom dia

Desde que eu parei de escutar o chamado para reza do meu roommate - que sempre toca às 4h da manhã - estava certo que mais nada poderia me acordar. Mas como já é de costume, a KAUST não se cansa nos surpreender, e eis que hoje - umas 9h da madrugada -, descubro que existe um heliponto bem em frente a minha casa. Cheguei a perder a conta de quantos helicopteros pousaram, parece que estamos recebendo uns convidados VIPs, provavelmente pra abertura de algum centro novo. Como moramos num ovo, não demora muito e tudo cai na boca do povo, vou procurar descobrir o que os rumores estão falando.

No início do ano que vem tem o chamado programa de aperfeiçoamento durante as nossas férias de 'inverno', com presença obrigatória. Genialmente, marcaram uma apresentação na pior época possível do semestre (no meio das provas) pra apresentar o cronograma, também com presença obrigatória. Na hora do almoço, pois assim ninguém podia dizer que tinha aula, dizia no e-mail que serviriam um lanchinho, que se resumiu a biscoitos e água. Além de atrasarem mais de 15 minutos, o alarme de incêndio ainda tocou no meio de uma das apresentações, mas os funcionários daqui levam tão a sério esse negócio que ninguém sequer saiu do auditório. Às 14h em ponto houve uma debandada em massa dos alunos, achei até um pouco desrespeitoso, mas acho que foi um modo de marcar posição de como todo mundo estava lá era obrigado e cheio de compromissos acadêmicos.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Thuwal

Ontem o pai de um aluno faleceu aqui na universidade. Ele veio dos Estados Unidos para fazer o Hajj com o filho, a peregrinação entre Mecca e Medina que todos muçulmanos deveriam fazer antes de morrer. Acredito que deva ser uma péssima sensação perder o pai te visitando na sua universidade, mas ao menos ele conseguiu realizar o desejo de fazer o Hajj em vida. Aparentemente ele já vinha lutando contra o câncer há algum tempo, e essa parece ter sido a causa da morte. Ultimamente todo mundo tem estado gripado (inclusive eu), já que doenças do mundo todo se encontram num só lugar durante o Hajj.

Fora isso a vida continua normal na universidade. Como vários alunos vão embora no final desse ano, tivemos um bazar de coisas usadas, tudo evaporou num instante. Agora sobraram só o que ninguém quer: tipo uma espada saudita por 5 mil reais. Hoje vários dos meus amigos se apresentaram numa peça teatral, super bacana por sinal. Descobri que um dos indianos é relativamente famoso numa parte da Índia por fazer pontas na TV. Por motivos óbvios era proibido tirar fotos, filmes, gravações, etc. Essa semana também teremos a votação para os representantes dos alunos, o bacana é que a campanha dos candidatos é obrigatoriamente discreta, nada de e-mails ou folhetos não-solicitados.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Qual é a cor do seu passaporte?

Temos um dos super-computadores mais rápidos do mundo, o Shaheen, que foi construído em parceria com a IBM. Os alunos de Engenharia de Computação usam ele freqüentemente pra rodar programas. Mas só recentemente descobri que pelo acordo assinado, determinadas nacionalidades não tem o direito de usar o Shaheen. Assim, mesmo que os alunos sírios e palestinos sejam os mais brilhantes da turma, vão ficar sempre em desvantagem comparado aos outros. É algo que me deixa profundamente transtornado, ver toda essa diferença de tratamentos por motivos tão torpes quanto a cor do seu passaporte...

Os alunos que foram entrevistados na feira de empregos receberam as propostas de trabalho apenas essa semana. Para exatamente o mesmo posto com o mesmo nível de formação, um aluno da Índia, Bangladesh ou China receberia exatamente metade do que um aluno americano, enquanto que os árabes e mexicanos ficam mais ou menos no meio termo. Infelizmente é algo bastante comum nas empresas sauditas: salários diferenciados de acordo com o seu país de origem. Não vou entrar no mérito da questão, mas acho isso tudo muito doentio e desnecessariamente racista.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Prêmio Nobel

Apesar de todas as críticas ao cara da WikiLeaks que vazou todos esses documentos sigilosos, acho que o cara merecia um prêmio nobel só pela coragem de ter mostrado ao mundo toda a podridão e essas maracutais que rolam por de baixo dos panos. Faço um paralelo com o chinês dissidente que recebeu recentemente o prêmio Nobel da Paz, a grande diferença é que agora também foram reveladas as malandragens cometidas indiscretamente pelo primeiro mundo. Se ninguém tivesse o rabo preso, não teria o que temer, a questão é que sempre foi muito mais fácil apontar o dedo pra alguém do que admitir seus próprios equívocos. Essas revelações sobre vários países do mundo árabe apoiando uma ação contra o Irã também não são surpresa alguma, os iranianos são persas e xiitas, motivos aparentemente mais do que suficientes pra todo mundo daqui detestá-los.