Churrasco de rato

Resolvi fazer um churrasco com os brasileiros daqui da KAUST pra mostrar o material que a embaixada me mandou e começar a discutir o que faríamos na nossa apresentação. Uma hora e meia depois da hora marcada, começaram a chegar os primeiros convidados. A Maria e o Guilherme trouxeram massa de pastel e pão-de-queijo que eles fizeram, ficou tudo uma delícia. A churrasqueira eu tinha conseguido com o Sérgio, mas ela está toda quebrada e não tinha nem apoio pra segurar a grelha, acabei improvisando um extra com a ratoeira, deu tudo muito certo e ninguém reclamou do gosto da carne.

Chamei o Hani e o Abdulrhman, mas os dois falaram que estavam estudando para as provas e nem deram as caras no churrasco. Sobrou um bocado que eu esperava almoçar e jantar hoje, mas quando acordei meus colegas de quarto já tinham dado um sumiço na carne, elogiaram bastante o churrasco, minha vontade era de falar que eles comeram foi é carne de rato...

A vingança das águas-vivas

Depois de que o nem o livro de programação conseguia mais olhar pra minha cara, resolvi que já era mas do que hora de fazer uma pausa, e resolvi ir dar (outro) mergulho no pier. Dessa vez já não havia mais nada no caminho, e tinha até um casal australiano por lá. Como não avistei nenhum golfinho, resolvi entrar na água! Em questão de segundos eu toco numa água-viva, mais um pouco dou uma olhada ao redor e vejo um mundo delas vindo na minha direção. A garota ainda me ajudou a sair da água e depois ficamos um tempo observando as águas-vivas 'brincando' com os peixinhos debaixo do píer.

Ontem a noite tivemos o primeiro concerto ao ar livre na faculdade, um grupo de americanos que moram na Arábia Saudita vieram tocar. Em princípio, apresentações musicais não-árabes/islâmicas são proibidas dentro do reino, eu mesmo só acreditei vendo, tomara mesmo que tenhamos mais shows assim. Espalharam tapetes pelo gramado, e juntou muita gente, entre alunos e funcionários. O pessoal tocava muito bem, e o vocalista chegou até a cantar 'Garota de Ipanema' num português um pouco quebrado, mas o que vale mesmo é a intenção.

Hash de novo

Esse final de semana a Alma me avisou que a carona dela tinha 2 lugares pro Hash, mas que como os garotos iam ficar pra acampar, voltaríamos de táxi. Liguei pra todos os meus contatos do celular, mas aparentemente todo mundo tem andado sem tempo, muito ocupado com trabalhos de casa, exames e não sei mais o quê. Pra mim sair um pouco da universidade e fazer atividades ao ar livre é algo que não tem preço...

Esse evento era especial por causa do dia de St. Patrick, e tinha direito a churrasco, acampamento e tudo. O tempo estava perfeito, um nublado quase chovendo. Dessa vez encontrei com os brasileiros que moram em Jeddah, a Cláudia e o Tomaz. Na volta eles ainda nos deram uma baita carona até o posto de gasolina onde tínhamos marcado o táxi pra universidade. Pra compensar passei a sexta-feira em casa estudando matemática e não andei de bicicleta com o pessoal.

Ontem o rei estava falando ao vivo na TV, os meus dois colegas de quarto acompanhando tudo. Ele prometeu dar 2 salários extras pra todos que trabalham pro governo, mas ainda não sei se isso também inclui estudantes não-sauditas no Reino(eu!). Parece que ontem a noite ele decretou que hoje seria feriado, não sei agora como é que vai ficar o meu teste de matemática...

Notícias

Essa foi de novo uma semana bastante corrida na faculdade e ontem tive meu primeiro exame, acho que fui muito bem. Também resolvi que vamos organizar um evento e apresentar a América do Sul para pessoal da faculdade, mostrar que não somos todos mexicanos. De novidades está o fato de que provavelmente no meio desse ano irei fazer um estágio na Holanda, mas ainda preciso confirmar e acertar algumas coisas.

Passei o final de semana todo estudando, só saí mesmo na sexta-feira de tardinha e fui até o todo-poderoso pier. Acho que por causa do vento as faixas de contenção tinham caído. Como não tinha nenhum impedimento, fui até o final de bicicleta, pelo caminho notei que os pássaros não se cansam de cangar por ali e ao chegar no cais, aproveitei pra dar uns mergulhos. Observei que embaixo do deque sempre ficam vários peixinhos, dá um certo medo nadar lá sozinho, vai que eu encontro algo parecido com um golfinho...

Amigo é pra essas coisas...

Impressiona a cara-de-pau de certos países em relação a todas essas revoltas no mundo árabe. Não faz 2 meses que esses ditadores eram recebidos de braços abertos no mundo todo, o próprio Gaddafi parecia ter ótimas conexões com os Estados Unidos, França, Itália, e tudo mais. Assim que começaram os protestos, todos esses 'amigos' que sempre apoiaram o governo, em questão de dias viraram as costas, congelaram as contas bancárias e bens no exterior. Talvez a única exceção seja a Arábia Saudita, que recebeu o ex-ditador da Tunísia. Dizem às más línguas que o ex-presidente do Egito levou tanto tempo pra deixar o poder porque ele estava transferindo toda a grana dele pra cá, e que atualmente se encontra em Tabuk, no norte da Arábia.


O ocidente sempre apoiou esses regimes porque os considerava mais fácil de controlar, e manter o fantasma do terrorismo supostamente afastado, não importando o que o povo pense nem todos os sacrifícios que faziam para manter o padrão de vida extravegante dos governantes. Não à toa que o Gaddafi e o presidente do Yemen vivem repetindo que estão é combatendo terroristas, eles sempre ganharam apoio/recursos de fora por causa disso. O que acontece no Bahrein é bastante diferente dos outros países, a maioria da população lá é xiita, mas que sempre foi controlada e um tanto quanto discriminada pela minoria sunita.

Onde eu moro na Arábia Saudita é relativamente trânqüilo, mas apesar de oficialmente não haver registro de nenhum protesto, a realidade é outra na parte leste do país, onde está praticamente todo o petróleo. É uma região onde a maioria da população é xiita, mas eles tem uma representação praticamente nula no governo, e são constantemente hostilizados pelos outros muçulmanos. Dizem os boatos que os protestos lá estão cada vez maiores, e marcaram uma grande manifestação pra essa sexta-feira na capital, Riyad.

Volta a realidade

Uff, essa foi uma semana corrida. Começou com um sábado sem aulas, decretado feriado apenas na quarta-feira para celebrar a volta do rei ao país. Passei o dia no computador adiantando um projeto, e no domingo as aulas voltaram ao normal. Ontem tivemos uma feira de empregos aqui na faculdade, a maioria dos stands simplesmente nos mandavam inscrever pelos websites, mas alguns alunos já foram chamados para entrevistas. Fora isso tive que atender a 2 seminários ao mesmo tempo e ainda preciso resumí-los para duas matérias diferentes, além dos intermináveis trabalhos de casa. Mas sempre que eu me lembro da Ana, vejo como é que a minha vida aqui é mamata =P