domingo, 31 de outubro de 2010

Haram

Haram significa qualquer coisa que seja contra o Islã, várias delas aprendi graças ao meu novo livrinho tipo: fazer qualquer tipo de aposta, usar substâncias tóxicas, mulheres usarem vestimentas da 'época da ignorância', e mais uma infinidade de outras coisas. Não vou entrar em detalhes de como a sociedade aqui é contraditória, pois isso também acontece em todas as religiões. No dia seguinte ao atolamento, visitamos a cidade histórica de Mada'in Salah, a maior cidade dos nabateos depois da capital, Petra.

Nosso guia também não sabia direito a história, mas ouvi dizer que os muçulmanos da região tentaram convertê-los enviando um cordeiro, mas como os nabateos tinham toda uma cultura e deuses próprios, não tavam nem aí, fizeram um grande churrasco e os muçulmanos não ficaram pouco fulos da vida. Acho que está escrito em algum livro que Allah os almadiçou ou algo assim, e desde então uma galera daqui queria destruir as construções deles. Por sorte virou patrimônio da UNESCO, cercaram o terreno todo e agora exigem uma permissão especial para entrar.

Não havia quase ninguém no parque, e a mulherada foi logo perguntar pro nosso guia se podiam tirar a abaya, já que estava quente pra caramba. Todas esses portais desenhados nas pedras são na verdade entradas de túmulos, parece que as famílias mais ricas faziam numa pedra única, sem vizinhos, os não tão abastados assim tinham outros túmulos na proximidade. Numa cadeia de montanhas funcionava meio que o centrão, tinha um local para sacrifício de animais, locais públicos e uma grande reserva d'água. Um dos poços era usado para agricultura até poucos anos atrás, quando visitamos todos estavam secos.

No meio do caminho encontrados uns árabes que nunca devem ter visto tanta mulher junta, ainda mais sem abaya! Não paravam de nos filmar/tirar fotos, espero que não resulte em maiores problemas.Visitamos ainda uma estação de trem desativada, que ligava Istambul até a cidade sagrada de Medina. A viagem de camelo durava 2 meses, com o trem passou a levar apenas 2 dias. Com o apoio dos britânicos e franceses, os árabes saquearam vários carros e destruíram a malha ferroviária, o que ajudou a derrotar o Império Otomano na primeira guerra mundial e desde 1916 está desativada.

Devido ao atolamento do dia anterior, a polícia descobriu que éramos um grupo de ocidentais viajando sozinhos de ônibus na Arábia Saudita, assim ganhamos uma escolta não-solicitada de volta a KAUST. Um carro ia na frente e outro atrás, até o posto policial seguinte, quando trocavam a escolta. Também podiam parar quando bem entedessem para rezar, e definiram que passaríamos por Medina porque era o caminho mais curto. Todo mundo apostou 1 rial a que horas chegaríamos de volta a KAUST, somando um prêmio total de quase 40 rials!

Quando chegamos a Medina, era mais ou menos um bom horário para jantar, mas não deixaram ninguém descer do ônibus até uma distância considerada 'razoável' da cidade. Uma galera tirou fotos da plaquinha 'entrada proibida para infiéis' no portão da cidade. Paramos num posto de gasolina sujinho, e a mulherada toda saiu com as abayas, mas os policiais pareciam ainda irritados e falaram algumas palavras não muito agradáveis em árabe com o motorista, não sei se porque não estavam cobertas o suficiente ou porque nem todas eram casadas, enfim tivemos uma parada muito mais curta do que a programada.

sábado, 30 de outubro de 2010

Mada'in Salah!

A primeira impressão é como o local é verde, um vale entre as montanhas repleto de palmeiras. Devido a abundância de água, há registros de civilizações no local há mais de 6000 anos! Segundo o nosso guia antigamente com um buraco de 5 ou 6 metros já se encontrava água. Claro que às não há chuva todo ano, mas às vezes chega a chover de 3 a 4 vezes num mesmo ano! Nossa primeira parada foram as ruínas da antiga cidade muçulmanas. Do alto do morro tínhamos uma visão bem bacana da cidade, aparentemente éramos os únicos visitando o local. Algo que me chamou a atenção é que na excursão éramos todos ocidentais: finlandeses, brasileiros, portugueses, sul-africanos, americanos, italianos, mexicanos... Parece que o pessoal local mesmo não liga muito para a história da região, uma pena.

Das ruínas fomos para a Pedra do Elefante, que fica bem no meio do deserto. Dessa vez não estávamos sozinhos, perto da pedra também tinha um 'casal' (um homem + suas quatro mulheres =) fazendo um pic-nic, mas acho que devem ter se sentido um tanto quanto deslocados com a nossa presença e partiram logo. Ainda íamos passar no mercado de frutas, mas o motorista do ônibus foi desviar de um carro parado no caminho, e acabamos por encalhar na areia fofa. Tentamos empurrar o ônibus várias vezes, mas de nada adiantou. Em questão de minutos vários jipes da polícia nos cercaram e ficaram só observando. Depois de quase 3 horas parados no deserto, conseguimos finalmente contratar um serviço de táxi/resgate pelo hotel.

Tentamos resgatar o ônibus com um caminhão, mas esse também acabou encalhando na areia. Finalmente mandamos para o local uma dessas máquinas usadas na construção civil para levantar objetos, e conseguimos tirar os dois da areia. Algo que me chamou a atenção é que no hotel não haviam folheto nenhum sobre o que fazer na região, atrações turísticas, restaurantes ou qualquer coisa similar. Apenas diversos folhetos/livrinhos visando a conversão de cristãos em várias línguas (árabe, francês, inglês...), peguei alguns só por curiosidade pra descobrir o que o Corão realmente diz a respeito de determinados assuntos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Bem-vindo ao Líbano!

Hoje tívemos uma breve introdução ao Líbano organizado pela comunidade na KAUST. Além das belezas naturais, da neve e da 'vibrante' vida noturna, destacaram alguns dos libaneses mais famosos do mundo, tipo a Shakira e o Carlos Slim - óbvio que vários colombianos e mexicanos se contorceram quando ouviram isso. O país é mesmo minúsculo, mas aparentemente são só 4 milhões no Líbano e outros 14 milhões fora do país (isso sem contar as Shakiras e os Slims da vida!). Outra coisa que eu achei engraçada foi essa roupa de bruxa das mulheres, aparentemente bastante típica no país há alguns anos atrás. A comida também é ótima.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Tempestade de areia

Dentro de casa não se notava nada de diferente, mas ao colocar os pés do lado de fora percebi que tudo estava um tanto quanto embaçado e escuro. Não encontrei absolutamente ninguém na rua, senti um vento forte e vários farelinhos de areia vindo na minha direção, pra minha sorte não tirei os óculos de sol. O segurança que deveria verificar os carros que vão para a garagem estava usando uma dessas máscaras de hospital e mandava todo mundo ir direto pro estacionamento, sem checar nada. Eu tinha acabado de cruzar metade do campus de bike no meio de uma tempestade de areia. Depois da aula tudo já tinha voltado ao normal e notamos que várias árvores tinham sido destroçadas, mas não acho que houve nenhum dano grande.

De noitinha fui ao churrasco da Débora, uma galera entrou junto numa dieta maluca recomendado pela academia que consistia em cortar durante duas semanas vários alimentos como farinha, leite e derivados, condimentados, aveia, milho, tomates (devido aos agrotóxicos), além do já 'proibido' como álcool e porco, entre outros. Segundo a Monise ela estava se sentindo muito mais disposta agora, mas para o André a única coisa que ele sentiu mesmo durante a dieta foi é fome. Pessoas como eu aproveitaram a baixa concorrência no pão-de-alho, salsicha de boi, marshmellow, entre outros. O André estava alternando entre o nosso churrasco e um outro com o pessoal do laboratório dele, ele foi e voltou pelo menos umas 4 vezes. Aparentemente no outro churrasco também tinha álcool, o qual exigia um grande esforço para se manter na dieta.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Semana dos exames

A quantidade de chineses monopolizando as salas de estudo da biblioteca sempre foi algo impressionante, mas essa semana eles realmente abusaram do direito. Quando eu tirei a foto ao lado tinha contado pelo menos uns outros 3 dormindo sobre os livros. Hoje tive o meu primeiro exame, e me ferrei bonito, como todo mundo que eu conheço da sala. A prova não tinha nada a ver com o nível lecionado em sala, muito menos com os homeworks, mas provavelmente vai aparecer um desses chinês moradores da biblioteca que deve ter feito todas as questões... Marcaram uma partida de futebol nessa quinta-feira (final de semana) contra os chineses, e o time que ganhar terá o direito de uso das salas da biblioteca por 3 dias consecutivos.

Ao mesmo tempo que essa tonelada de exames, papers e homeworks, está acontecendo uma série de palestras/workshops sobre como se preparar para o mercado de trabalho, com dicas de como se comportar em entrevistas, como fazer um currículo, escrever cartas de motivação, etc. Fui em todos que eu pude, mas parece que em geral o pessoal daqui acha que é perda de tempo, e pouca gente tem aparecido. Eles também tem um site na internet (grátis) pra quem quiser checar o material: www.porot.com

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Exames, papers, homeworks...

Alah deve saber o porquê, mas quando uma coisa tem que acontecer, parece que vem sempre tudo junto. Pelo menos sempre funcionou assim na universidade com os exames, trabalhos, projetos, e tudo mais. Essa é uma das semanas daquelas com prazo final pra tudo. Hoje passei o dia inteiro trancafiado na bilioteca só fazendo o trabalho de circuitos, e ainda me falta uma das questões de amplificadores. Ainda nem comecei a estudar pra prova de estatística (essa terça), e ainda tenho o trabalho de optoeletrônica pra quarta... Como era aniversário do Hassen, tivemos uma mini-festinha de aniversário, mas dessa vez não me deixaram nem fazer uma torta de limão =)

domingo, 10 de outubro de 2010

Volta a vida de universitário...

A maioria dos alunos já tiveram a primeira bateria de exames, por sorte os meus só começam na semana que vem. Provavelmente devo trabalhar num projeto alternativo de energia solar aqui na KAUST. Consiste basicamente em nanoantenas que atuam com radiações infravermelhas, ou seja, também poderiam produzir energia a noite. A grande vantagem, além da produção dia e noite, é que teoricamente se pode obter um rendimento muito superior se comparado aos painéis fotovoltaicos convencionais. O grande desafio é que a tensão de saída é alternada na ordem de tera Hz, a idéia é arranjar um conversor que trabalhe nessa faixa e transformar para corrente contínua.

Sobre as denúncias de machismo na viagem, acredito que foi apenas uma questão de conveniência: imaginem se pegam um monte de meninos e meninas não casados acampando juntos na Arábia Saudita? Sei que pode parecer um tanto quanto preconceituoso, mas pra evitar o que acaonteceu nas últimas férias, dessa vez também não vou planejar nada com pessoas de países como Colômbia, Bangladesh ou China por causa de problemas com vistos. Concordo que somos todos iguais e defendo piamente que devíamos ter todos os mesmos direitos independente de sexo, raça ou religião, mas não fui eu que inventei as regras.

sábado, 9 de outubro de 2010

De volta ao campus

Ontem fui reservar um lugar no passeio a Mada'in Saleh, uma cidade inteira esculpida nas pedras no meio do deserto, feita pelo mesmo povo que construiu Petra. Está descrita num dos livros sagrados do Islã como um local pagão, então uma galera aqui da Arábia estava mais do que disposta a destruí-la, mas por sorte o Rei Abdullah conseguiu tombá-la como patrimônio da humanidade. Hoje em dia o local é todo cercado e é necessário uma permissão especial do governo para visitá-la. Então o melhor jeito para visitar é mesmo através de uma agência de viagens.

Sei que a universidade é na verdade um ovo, mas a velocidade com que os rumores se espalham realmente impressiona. A funcionária que estava cuidando do passeio sabia de tudo da nossa viagem a cratera de Wa'ba, assim como TODOS os outros alunos da universidade. Segundo o Sérgio não teve muita coisa nesse final de semana na universidade, só que como o Guilherme tinha que mudar de casa, houve um grande mutirão entre os brasileiros para acabar com o estoque de sucos que fermentaram na antiga casa dele.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Viagem a cratera de Wa'ab

Chuva na Arábia Saudita é algo que acontece uma vez por ano, se acontece. E ontem no meio do caminho começou a chuviscar, a primeira coisa que pensei foi que era Murphy aprontando só porque íamos acampar. Mas fiquei impressionado mesmo foi com a quantidade de relâmpagos, era um atrás do outro, em intervalos de menos de 10 segundos. O pessoal conseguiu tirar algumas fotos bem bacanas, e vários motoristas simplesmente colocavam as mãos para fora do carro (!) para apreciar o acontecimento. A viagem demorou muito mais do que o planejado, e quando chegamos perto da cratera já passava da meia-noite, mas felizmente nem chuviscou no local. Fizemos duas fogueiras, e um churrasco que durou até às 3h da manhã, dormimos todos nos tapetes que o pessoal levou para rezar. Todos os árabes me falavam que o local fazia frio, pra levar agasalho. Realmente fiquei surpreso com a temperatura à noite, estava mesmo agradável, devia fazer menos de 30 graus, nem parecia Arábia Saudita!

Antigamente funcionava um vulcão no local, mas numa das erupções ele acabou se implodindo e formou essa enorme cratera no meio do deserto. No fundo dele há uma camada branca de sal. Começamos a nossa trilha não eram 6 e meia, aproveitando o sol baixo. Andar sobre o sal exige um pouco de cuidado, por que a no meio o solo é relativamente úmido e afunda. Na volta, o sol estava contra a gente, mas conseguimos retornar para o estacionamento por volta das 10h. No caminho descendo a serra, encontramos dúzias de babuímos, os macacos de bunda pelada, todos atraídos pelos motoristas curiosos que paravam e alimentavam os bichos.

Ainda no caminho, vimos alguns acampamentos de beduínos, passamos por alguns camelos no meio do deserto, etc. O passeio definititavamente valeu muito a pena, há vários locais para explorar pelo reino, e ainda preciso de uma outra desculpa para usar ao menos uma vez a minha barraca e o saco de dormir! Assim que chegamos de volta a universidade, senti aquele choque da umidade e a sensação térmica desagradável quando não se está com ar-condicionado... De volta aos homeworks!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

É festa!

Como o Guazzi viajou para os Estados Unidos essa semana, fizemos uma festinha com direito a um suco de uva fermentado, que se trocassem o rótulo, ninguém diria que era suco, tinha consistência e gosto mesmo de vinho de verdade! Também preparam outra coisa que misturada com suco de maçã parecia com uma dessas Sidras vagabundas. O grande problema é que com essas bebidas todas made in KAUST, a dor de cabeça é mais do que certa no dia seguinte... O André (o português aluno de PhD) tava falando que no final de semana ele foi a uma festa só para professores e funcionários, e ficou abismado com a quantidade de produção caseira, e que de tanto degustar as provinhas de todo mundo, chegou a ficar alto, algo um tanto quanto inimaginável em se tratando de Arábia Saudita...

Esse final de semana eu vou visitar a cratera de Wa'ba, cerca de 600km daqui. Vamos alugar uns carros amanhã, e partir viagem no começo da tarde. Nosso planejamento é acampar uma noite e voltar no dia seguinte. Aproveitei pra comprar um saco de dormir e uma barraca em Jeddah (R$12 uma dupla, super leve!). Também descobri algo muito interessante: se por ventura você já estava dentro do supermercado Panda durante os horários de oração, eles não te obrigam a sair, simplesmente fecham as portas com todo mundo dentro, e você pode fazer as compras com toda a calma do mundo. Muito melhor do que ficar do lado de fora coçando o saco.

domingo, 3 de outubro de 2010

Consertando a bicicleta

Depois de tanto pedalar na areia e fazer altos malabarismos com a bicicleta, consegui arrebentar a minha corrente na semana passada. Sinal que eu tenho aproveitado bastante, o problema é que aqui na faculdade eles não tinham nenhuma correia do mesmo tamanho que a minha, e precisei ir buscar outra em Jeddah. Comprei numa lojinha no Al-Balad por menos de R$7. Engreçado que nas horas de reza todo mundo fecha as suas barraquinhas, inclusive os camelôs cobrem com um pano preto as mercadorias. Como o pessoal de lá não tem tanta grana quanto nos shoppings da cidade, muitas vezes a galera se curva pra Mecca em cima de pedaços de papelão improvisados ao invés dos famosos tapetes, tudo bem no meio da rua.

No dia seguinte o Ben me ajudou a colocar a corrente na bicicleta, acho que o pai dele era mecânico de carros nos Estados Unidos, e ele tinha alguma familiaridade com o assunto. Como não tínhamos praticamente ferramenta nenhuma, tivemos que improvisar um bocado. Por exemplo, ao invés de um martelo, utilizamos as panelas italianas da nossa cozinha, que saíram um pouco riscadas, mas se mostraram bastante eficazes na nova função. De volta ao grupo de Mountain Bike, o Cecil me ajudou a consertar um outro barulhinho e a Susanne me emprestou um capacete enquanto não comprou o meu próprio. Dessa vez subi e desci uns morrinhos bastante íngremes de construção, mas ainda não tive coragem de descer as escadarias com o pessoal.