domingo, 4 de dezembro de 2011

Barrado na Arábia

Fiz uma viagem trânquila, sem atrasos, checaram os nossos passaportes antes de embarcarmos e aparentemente estava tudo em ordem. A grande surpresa foi quando cheguei no aeroporto de Jeddah, e o fiscal da imigração ao invés de simplesmente carimbar o meu passaporte, resmungou algo em árabe, me deu um papelzinho em árabe e me apontou pro superior, que falava alguma coisa de inglês. Logo juntou um monte de militares que não falavam uma palavra em inglês mas tentavam se comunicar, dizendo que conheciam, Ronaldo, Kaká, futebol, etc. Na salinha do lado ele disse que o meu visto não era mais válido, expliquei que estava estudando no país e ia defender a minha tese de mestrado, tinha mantido o meu status de residente no país e liguei para a universidade pedindo ajuda.

Logo mandaram um cara da KAUST que falava árabe, pegou os meus documentos, falou com o chefe e os dois sumiram por um instante. Me mandaram sentar num banco do lado de fora com as outras pessoas que também estavam com problema com visto. Não tínhamos mais nome, éramos "os etiópes" (que também não falavam árabe), "o brasileiro", "o turco" (que só falava turco) e "os marroquinos" (que falavam entre si). "Os etiópes" eram cristãos, uma mulher lá com os 50-60 anos e o filho, de 30 e poucos anos, que vinham de uma viagem a negócios em Ghanzou, na China, e planejaram fazer contatos na Arábia antes de retornar a casa. Falavam inglês muito bem e eram super educados. Disseram que os chineses trabalham muito durante o dia, mas a noite parecia que todos saiam pros cafés e restaurantes.

O problema deles é que o fiscal da imigração disse que o visto deles tinha expirado. A mãe era diretora da 'Ethiopian airlines' e bateu de frente com todo mundo pra provar que tinha razão e estava tudo Ok com os documentos deles, e apontava pacientemente as datas para os funcionários. De tempos em tempos passava algum fiscal aparentemente para implicar com eles e dizia que o visto deles tinha acabado. Comigo ninguém falava nada. Não tinha lugar nenhum pra comprar comida nem usar a internet. Dividi com os etiópios os strop-waffles que tinha levado de souveniers para os meus amigos na Arábia. A 'mãe' conseguiu falar com todo mundo no aeroporto, eu estava seguro que a minha universidade estava cuidando de tudo. Uma cena que me chamou a atenção foi quando depois de quase 1h ela saiu de uma sala aos prantos e o filho deu um forte abraço para consolá-la, acredito que seriam extraditados pra Etiópia no dia seguinte simplesmente porque alguém 'resolveu' que o visto não era válido e ponto final.

Nem tive tempo de me despedir, logo (digo, depois de 7h de espera), apareceu um militar com um fuzil e apontou para eu apanhar as minhas malas. Pensei que tinham resolvido o meu problema, mas ele disse algo como eu estava voltando para casa e mostrou um bilhete como o meu nome para Paris (onde fiz uma conexão). Tentei explicar que eu estudava na Arábia Saudita e sequer morava na França, mas ele não falava uma palavra em inglês e não adiantou de nada. Atravessamos todas as filas no aeroporto, e fui escoltado pelo militar até dentro do avião. Como foi tudo muito de repente, a ficha não tinha caído do que estava acontecendo.

4 comentários:

  1. Meu Deus, Marcos. Não deixa de atualizar o blog!

    ResponderExcluir
  2. Graças a Deus vc estará bem e salvo .
    Estamos rezando para que consiga perdoar essas pessoas treinandas para serem assim ..
    Isso tudo é algum aprendizado e vc saberá focar a vida com outros olhares depois que regressar.
    Bjs
    Tia Isabel e Avó Philomena

    ResponderExcluir
  3. É bom ter sempre um plano de contigência para contornar esses imprevistos. Você deve encarar essa situação como um aprendizado.

    ResponderExcluir
  4. Marcos! uau! e eu preocupada que nao tenho visto ainda pra ficar aqui!

    ResponderExcluir