Projeto novo

Se tem algo que eu não posso reclamar da KEMA é que os projetos daqui são sempre sobre temas bem legais. O novo em que eu também fui alocado é um outro consórcio de não-sei-quantas instituições européias pra desenvolver uma nova tecnologia de retirar o dióxido de carbono de usinas elétricas usando o que eles chamam de membranas seletivas. Com todas as regulações na União Européia e as exigências do protocolo de Kyoto, hora ou outra as indústrias vão precisar se adaptar, a grande sacada vai ser o que fazer com todo esse dióxido de carbono separado. E é exatamente isso que o chefe do meu chefe pediu pra eu fazer: uma análise de onde e quanto é possível empregar dióxido de carbono, e quanto seria a rentabilidade. Como há grandes expectativas quanto aos resultados, meu trabalho será confidencial e não será dividido com o restante do consórcio.

Antes que me perguntem: a foto de hoje é do jardim de fundo daqui de casa com o caminho que dá pra garagem e um laguinho, a vista que eu tenho do banheiro.

Em boca fechada não entra mosca...

Sexta-feira passada estava pertubando um pouco o meu supervisor porque minha idéia é fazer a tese de mestrado no estágio. Aconteceu que o chefe do meu chefe entendeu que eu estava na verdade era à toa, e hoje me mandou mais de 200 páginas pra ler e resolveu-se que eu posso trabalhar em 2 projetos ao mesmo tempo, já que o estagiário parecia estar com muito tempo livre... Depois de uns 5 e-mails há mais de um mês sem resposta, resolvi finalmente procurar outro professor que possa me orientar, e pedi pra os meus amigos que ainda estão na Arábia ficarem no pé mesmo, que sou bom aluno, e blablabla.

Fora a vida de trabalhor, quinta-feira saímos com o Sebastiaan (do grupo do Hash Run) para o Student Night de Arnhem. Mas como as provas já passaram, uma galera já voltou pra casa e estava tudo meio vazio. O Enoch (outro estagiário) foi de novo para a França no final de semana, e essa sexta-feira vem a namorada dele conhecer a cidade, vamos ver se dessa vez rola o churrasco!

Reunião

Na verdade era uma mesa de discussão entre os principais executivos participantes do projeto, o que explica toda a preocupação dos meus chefes que eu e o Gerard (o outro estagiário) não falássemos nenhuma bobagem. Nunca tinha ido em nada parecido antes, foi impressionante observar como várias coisas do projeto mudam tão rapidamente, ver o que os outros estão fazendo e receber comentários/opinião dos outros ajuda muito. Chega a ser engraçado como as pessoas lidam com informações confidenciais, mas ao mesmo tempo se esforçam para contribuir o máximo possível com todos, já que como trabalhamos juntos, é de interesse geral que todos os projetos/empresas se saiam bem.

Contamos ainda com a apresentação da KEMA por um dos principais executivos da empresa e jantamos no hotel onde o pessoal estava hospedade: um restaurante debruçado sobre o rio Reno, rodeado de janelas com uma vista incrível, tudo pago pela empresa! O almoço de hoje tipicamente holandês também foi cortesia da companhia. Estava torcendo que a próxima reunião fosse o mais longe possível (pra viajar mais!), mas entre Suíça, Bélgica e Holanda, resolveram ficar com Amsterdam...

Local

Sei que a foto não está muito bem tirada, mas acho que dá pra ver bem a bandeira e a mochila. Segundo a Dona Pieterse, quando os alunos passam de ano direto é costume pendurá-las do lado de fora. Estranhos costumes locais... Outro hábito muito comum aqui é falar mal de alemães, qualquer que seja o motivo. Segundo a amiga da Debbie por causa da história, e agora também por causa dos pepinos, hehehe. A Dona Pieterese me contou que eles foram muito cruéis durante a guerra, ela morava perto do mar e precisou ir para a casa de um irmão no interior, onde também não tinha muita comida. Vinham muitos holandeses de bicicleta do oeste do país pedindo algo de comer, mas muitos não resistiam a fome. A região de Arnhem foi palco das últimas batalhas da guerra, houveram muitos bombardeios por aqui, mas finalmente os britânicos e os americanos os expulsaram de vez, e a paz foi assinada em Wageningen, a 15km daqui.

Voltando aos dias de hoje: perguntei pro meu chefe se eu poderia assistir às apresentações das empresas do consórcio essa semana, já que achei que seria bacana sair um pouco do meu escritório e ver o que os outros estão fazendo. No início ele estava meio receoso, mas depois verificou que não teria problemas. Recomendou só não fazer perguntas estúpidas e ir arrumado (pelo menos camisa social), aparentemente amanhã eu ainda vou conseguir filar um jantar num hotel de frente pro rio Reno!

Overdose de trabalho

Semana que vem chega o pessoal das outras empresas pra apresentar o andamento dos projetos deles e acompanhar os nossos, assim sendo as nossas apresentações e os posters precisavam sair hoje de qualquer jeito. O Gerard chegou no trabalho às 8h10, e após o almoço tivemos uma reunião com os nossos chefes que parecia que não ia acabar nunca. Depois ainda precisei criar um poster a partir da minha apresentação, refazer alguns slides e checar se estava tudo ok com o meu chefe. A essa altura a KEMA já estava deserta (domingo é dia dos pais), mas o Gerard e o chefe dele pareciam não se importar tanto e ficaram até mais tarde. Pra completar, o portão pelo qual eu normalmente saio estava trancado, e precisei dar a volta toda no centro até a entrada principal... Final de semana mais do que merecido!

Dia a dia

Ontem de manhã percebi a importância de consertar a bicicleta tão logo quanto possível: isso significava mais uns 20 minutos de sono, e arrumei assim que voltei do trabalho. Começamos a semana com uma reunião com o meu chefe e o Gerard, o outro estagiário do meu projeto. Semana que vem teremos a visita das várias empresas e instituições do consórcio e cada um ficou responsável de montar uma apresentação do nosso trabalho. Minha idéia inicial era focar bastante nesses dias pra na reunião de sexta-feira ter algo mais concreto pra apresentar, uma vez que o outro estagiário tem coisa pra caramba pra mostrar. Ao contrário de mim, o Gerard foi alocado numa sala junto com os chefes, e apesar de morar no outro lado canto do país, sempre chega no trabalho às 8h (o que implica sair de Enschede 6 da madruga!).

Apesar de eu gastar 10min de bicicleta de casa ao trabalho, sempre chego na KEMA umas 8h30-9h e saio assim que o primeiro estagiário da minha sala ameaça debandar. Meu plano de trabalhar pesado esses dias parece ter morrido na própria terça-feira, quando a Debbie e o Thijs me chamaram para comemorar um aniversário no meio da semana. Acordei hoje meio quebrado e não fiz praticamente nada de produtivo durante o dia todo, me resta agora apenas esperar que aconteça um verdadeiro milagre aconteça entre amanhã e sexta-feira, para que eu apresente algo além de blablabla... Pra piorar ainda mais as coisas, amanhã tem a promoção de cervejas na cidade a 50 centavos ou 1 euro!

Hash House Harriers de Wageningen

Procurando na internet, descobri que havia um grupo de Hash pertinho de onde eu estou morando, que se reúnem uma vez por mês, justamente nesse final de semana! Chamei os outros estagiários da KEMA para irmos de bicicleta até o local de partida. Por ironia do destino, a minha bicicleta que nunca deu problema antes, quebrou justamente no caminho pra KEMA, onde ia encontrar com os outros. Por sorte o Pierre veio da França pra cá de carro, deixamos as bicicletas em casa e fui de carona. O grupo é bem menor que na Arábia (acho que umas 15 pessoas), mas acho que isso é até um ponto positivo, já que mais gente fala contigo.

Claro que tinham alguns holandeses também, mas todo mundo falava em inglês, já que a maioria do grupo é de estrangeiros, principalmente britânicos, mas também tinha gente da Indonésia, de Trindade (Caribe) e dos Estados Unidos. Como na Arábia, aqui também tem as marcações da trilha, e vários falsos caminhos (sinalizados). Como é tradição no Hash, depois da corrida se faz uma rodinha com o número da competição (reclamaram que mais parecia um 'infinito/sigma' do que um 68...), os organizadores ficam no meio do círculo e todo mundo fala mal da corrida (com bom-humor, claro!), depois cantamos e quem está no meio do círculo bebe a caneca de cerveja. Por qualquer desculpa te colocam no meio da roda, e repetem o ritual. Depois tivemos o churrasco (muita comida!), e aproveitei pra pegar o contato de quem mora em Arnhem, marcar de fazer alguma coisa na cidade.

Sala dos estagiários

Meu trabalho na verdade é só uma parte de um projeto grande financiado pela União Européia em conjunto com várias empresas da área para fabricar uma tecnologia mais barata e eficiente de painéis fotovoltaicos. Um protótipo feito em escala reduzida é esse mostrado aí no canto da minha sala, mas que ainda é cheio de falhas. Minha tarefa é criar um método para detectar automaticamente defeitos de fabricação, que deverá ser apresentado em novembro para justificar os fundos recebidos. Já tive algumas idéias, mas a implementação das idéias é que é a tarefa mais difícil, se der tudo certo, espero poder reciclar o trabalho e usar como tese de mestrado =)

Do outro lado da minha mesa fica o Huit, os 2 franceses dividem outra mesa à esquerda e em outra baia ficam os 2 estagiários chineses, um pouco mais afastados. Descobri que apesar de estarem trabalhando na mesma sala há alguns meses, os chineses também não se comunicam muito com o resto do povo. Ontem depois do trabalho jantamos no McDonald's e assistimos a partida da Holanda x Uruguai num bar do centro de Arnhem (menos os chineses). Foi bacana pra conhecer um pouco mais a cidade e integrar com o pessoal, agora vou procurar saber o que tem em Arnhem nesse final de semana.

Estágio na KEMA

Essa semana comecei oficialmente o estágio na KEMA. Me lembrou muito o tempo de estágio no Cepel, com a diferença que o pessoal daqui leva a coisa bem mais a sério, talvez porque ninguém cursa universidade ao mesmo tempo que nem era no Brasil. Meu supervisor a princípio não tinha gostado muito da idéia que eu ficasse em outro andar, mas como não tinha espaço vago no meu departamento, fui mandado para 2 andares de distância longe dos meus chefes, alocado 'temporariamente' na sala dos estagiários. Sinto como se fosse uma reunião da ONU na nossa sala: 1 holandês, 1 francês, 1 da Guiana francesa, 2 chineses, além de mim de brasileiro.

Todos sempre trazem sanduíches e uma fruta, e apesar de termos oficialmente 1 hora de almoço, até agora só comemos na sala. O Pierre, o Huit e o outro da Guiana Francesa sentam perto de mim, gente finíssima. Amanhã marcamos de assistir o jogo da Holanda contra o Uruguai aqui em Arnhem. Como hoje não estava chovendo, voltei pra casa pelo atalho que a Dona Pieterse me ensionou (foto).

Arnhem

Um grande ícone na arquitetura de Arnhem é o conhecido World Trade Center: 2 imponentes prédios de escritórios cada um com seus 15 andares, que se destacam no horizonte da cidade. Brincadeiras a parte, tenho que reconhecer que esses prédios ajudam bastante a se localizar, quando cheguei de trem e vi os prédios, reconheci na hora que estava em Arnhem, bem como quando estava andando de bicicleta e lá na pontinha comecei a ver os prédios, sabia que estava chegando em casa.

Esse final de semana passei praticamente em casa, lendo os artigos pro meu estágio. Amanhã é o meu primeiro dia de trabalho de verdade, mas ainda preciso dar uma boa revisada nos papers...

Holanda de novo

Realmente nao tenho o que reclamar do meu quarto, é muito conveniente ter uma 'cozinha' só pra mim. Lembro que achei super engraçado o contrato ser todo numa folha de caderno, escrito a mão, mas como tem a minha assinatura e da Sra. Pieterse, não tive problemas nem com a prefeitura. No primeiro dia ela também me leu as regras da casa (que estão descritas numa espécia de livro!), algumas bem óbvias, como não fazer barulho, se quiser desistir do contrato avisar pelo menos com um mês, e outras nem tão óbvias: máximo de 1 banho por dia de até 7 minutos, acidentes na varanda (que está sob reforma) por própria conta e risco...


Aproveitei que essa semana ainda não estou trabalhando e fui almoçar na UNESCO com os meus amigos do antigo estágio. É mesmo no outro lado do país (quase 2h de trem!), mas valeu mesmo a pena reencontrar todo mundo. A minha chefe está feliz da vida, grávida de 6 meses, a maior preocupação agora é em decidir o nome do menino. Descobri que aqui na Holanda é relativamente comum morar com 15-20 pessoas numa casa de estudantes, e vi como fui sortudo com moradias. Todo mundo lá pagava bem mais do que eu pra morar com uma multidão de pessoas.