
A viagem pra Arábia Saudita não começou muito bem: assim que cheguei em São Paulo o cara da Lufthansa encrencou com o meu visto e bateu o pé que sem a passagem de volta ele não ia me deixar embarcar. De nada adiantou eu explicar que eu ia estudar, o que é significaria uma longa estadia... Finalmente concordaram em me deixar viajar para Frankfurt só porque eu também tenho um passaporte europeu.
Crente que meus problemas tinham acabado por aí, descobri que ele telefonou para a imigração na Alemanha e avisou para não me deixarem embarcar. Como quem fiscalizava os documentos eram árabes, eles logo viram que estava tudo certo e pensaram que se tratava de algo mais grave, e me arguiram na frente do vôo todo se eu estive na prisão no Brasil. Foi um constragimento totalmente descenessário graças à Lufthansa, o engraçado é que o Sérgio embarcou no mesmo avião que eu, só foi atendido por outro funcionário e passou tudo normal.

Os árabes por aqui falam que a universidade é a 'Las Vegas' da Arábia Saudita, onde 'tudo' é permitido. No país só existem 2 salas de cinema, sendo uma delas na minha universidade, a KAUST. Tudo aqui é muito novo e internacional, mas também se espera respeitar os costumes locais. Por exemplo, estamos no Ramadan, época em que todos os muçulmanos jejuam durante o dia, então não se deve comer ou beber líquidos em locais públicos. A vantagem é que durante essa época sempre abastecem uma salinha com lanchinhos e sucos para os não-muçulmanos.

Logo nos primeiros dias esquecemos dessa regrinha de bom comportamento e compramos uns picolés no supermercado e fomos comer numa pracinha. Assim que lembramos escondemos tudo e fomos para dentro de uma sala onde só estavam estrangeiros, e desembrulhamos de novo. Logo mais tivemos de esconder tudo de novo porque chegaram uns muçulmanos, e logo migramos de vez pra salinha do café.

O mais bacana aqui foi encontrar com toda a galera que eu estive nos Estados Unidos, na Holanda, no México e em Londres. Outro dia mesmo estava lembrando do treinamento de incêndio da Rose-Hulman: estava tomando banho de água quente e acabei esquecendo a porta aberta, o vapor chegou no sensor e disparou o alarme. Peguei algumas roupas e saí para frente da casa, depois de um tempo o Hani também saiu, e nada do nosso outro colega de casa. Batemos na quarto dele, ele disse que pra ele não estava tanto barulho assim e que voltaria a dormir (!). Basicamente eu fui o único que levei o negócio mais ou menos a sério e fiquei do lado de fora o tempo todo esperando os bombeiros chegarem e desligar o alarme...