terça-feira, 13 de março de 2012

Nadando contra a correnteza

Pelo que eu entendi, a Marilene sofre de esclerose múltipla, às vezes ela perde os movimentos de um braço, de uma perna, mas com tratamento eles voltam. De um dia pro outro ela acordou cega e, claro, tentou de tudo para voltar a enxergar, mas segundo a minha amiga ela voltou mesmo a viver de novo quando desistiu de ficar procurando a cura e descobriu que podia ser feliz assim mesmo. Voltou a fazer o que gostava, deu aulas de culinárias e hoje recebe uma bolsa do governo brasileiro para competir como pára-atleta. Hoje ela já tem mais de 50 anos e não conseguiu mais atingir o índice olímpico para receber a bolsa como atleta de natação, mas ela é uma daquelas pessoas batalhadores que não desiste no primeiro obstáculo, tentou de tudo para continuar no esporte e conseguiu atingir nível pára-olímpico no lançamento de dardos.

O Wilter, marido da Marilene, não enxerga desde os 16 anos, acho que ele caiu do telhado ou algo assim, mas também leva a vida bem trânqüilo. Trabalha numa câmara escura como operador de raio-X, aparentemente um emprego comum entre cegos, e começou a competir por influência da esposa, e também porque gosta de natação. Ele tem um problema na perna e iria nadar bem devagar. Eu fiquei de guiá-lo durante a competição. Meu maior medo era pra entrar na água, já que eles não conseguem ver quando a onda está chegando, mas demos sorte e o mar estava uma piscina! Só a água estava gelada, 19°C, e muita gente desistiu logo nos primeiros 500m. Ser um guia na competição é muito mais responsabilidade: desistir no meio da prova significa também acabar com o sonho de alguém que se preparou pra caramba pra essa prova só porque o guia cansou ou achou que a água estava gelada demais...

A maior dificuldade foi que estávamos nadando contra a correnteza e mesmo lá no fundo as ondas estavam bem cheias, e jogavam toda a hora pra praia. Tive de corrigir o Wilter quase que o tempo todo, mas chegamos até o fim da prova e deixamos um monte de gente pra trás! No final das contas, a Marilene - que estava se poupando para as provas de atletismo - terminou em primeiro, e eu e o Wilter, em 5° lugar da categoria, uma experiência e tanto!

4 comentários:

  1. Marcos, adorei o post! Parabéns por ter chegado até o final da travessia mesmo contra a correnteza!

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  2. Muito bom o post, Marcos. E para bens para você e seus amigos pelo resultado na travessia.

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  3. É por essa e outras que a mãe do Marcos é uma mãe babona! (rs)

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  4. Desculpe, mas só hoje que entrei no blog. Parabéns por este gesto maravilhoso. Não é só a mãe que fica feliz mas a tia também. Continue praticando estas ações pois o mundo anda carente de pessoas assim.

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